Fortes paixões de uma poeta estrangeira no Brasil

Por Emanuel Neri, em São Paulo.

Tem uma peça de teatro passando em São Paulo que é linda e emocionante. A peça –Um Porto Para Elizabeth Bishop, um monólogo -, com a excelente atriz Regina Braga (na foto, à esquerda), conta a história do relacionamento amoroso entre a poeta americana Elizabeth Bishop (1911-1979) com a brasileira Lota Macedo Soares, de uma tradicional família do Rio e que foi importante colaboradora do governo Carlos Lacerda, no Rio, no início dos anos 60. Lota foi a coordenadora da construção do Aterro do Flamengo, um dos cartões postais mais bonitos da capital fluminense.

A peça, dirigida por José Possi Neto, não é nova, mas está fazendo grande sucesso em São Paulo. Bishop chegou ao Brasil em 1951, para passar poucos dias, mas acabou morando 15 anos –depois voltou, para morar mais sete. Morava com Lota entre o apartamento de Copacabana, com vista para o mar, e uma casa em Samambaia, distrito de Petrópolis, região serrana do Rio. Em 1956, morando no Brasil, ganhou o Prêmio Pulitzer de Poesia –um dos maiores prêmios literários do mundo. A peça é baseada no livro da jornalista Marta Góes, que tem o mesmo título da peça (pode ser encontrado em qualquer livraria).

Bishop foi uma das maiores escritoras americanas do Século XX. Além de sua relação com Lota, que morreu em 1967, em Nova York, ao seu lado, Um Porto Para Elizabeth Bishop é também o olhar de uma escritora estrangeira –algumas vezes crítico, outras vezes apaixonado - sobre o Brasil. Bishop adorava a cultura brasileira. Via todos os anos o desfile das Escolas de Samba, no Rio. Após a morte de Lota, voltou ao Brasil para morar em Ouro Preto (MG). Sempre amou muito Lota. Um dos seus poemas, As Amantes,  é belíssimo:

“Juntas, coladas, a noite toda, as amantes estremecem durante o sono/Próximas como duas páginas do mesmo livro, que se lêem no escuro/Cada uma sabe a outra de cor, minuciosamente/ da cabeça aos pés”.