segunda-feira, 29 de agosto de 2011

"Tupy or not Tupy" no caldeirão antropofágico do Teatro Oficina

Por Ylton Amaral (*)

Setentoso para alguns, ousado, libertário e revolucionário para outros, os espetáculos de Zé Celso Martinez Correa levam discussões acaloradas até pra festa de aniversário. No último dia 22/08, inventei de puxar o papo sobre a última carnavalização do Zé, a peça Macumba Antropófaga, em cartaz  até 02/10, no Teatro Oficina, em São Paulo. Não deu outra: fiquei na defesa do quase octogenário teatrólogo, enquanto outros, educadamente - para não fazer feio na festa - baixavam o pau, engrossando o coro dos que consideram aquilo um tipo de teatro ultrapassado, repetitivo e até grosseiro.

Tupy or not Tupy?, provoco, como provoca o povo da Uzyna Uzona, como também é conhecido o grupo de Zé Celso, canibalizando  Hamlet (To Be or Not To Be), de Shakespeare.

Para mim, todos os espetáculos dirigidos pelo Zé Celso têm o sabor dos shows de mágicas, que adoro. Ali, exercito meu prazer de ser iludido sem jamais querer descobrir o truque do coelho. Nas peças do Teatro Oficina, o que sai da cartola são evocações de infância, o lúdico, o grito, o choro, o riso, o escancaramento da nudez, a genitália desnuda na cara do espectador, num despudor herege que fascina e agride.

O que me deslumbra é a forma, é o visual, são as soluções cênicas criativas que formam um subtexto escrito com a ajuda do público. Como quem observa um quadro abstrato, esqueço a linearidade do roteiro e me deixo surpreender a cada cena. E o Zé Celso transborda de prazer oferecendo Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Pagu, João Ramalho, índios Tupinambás e Amy Winehouse para a degustação da platéia de Macumba Antropófaga. Mais uma provocação imperdível para as tardes de sábado ou domingo no terreiro que a famosa arquiteta Lina Bo Bardi fez especialmente para o Oficina (Rua Jaceguai, 520, Bixiga, São Paulo) ou, ao vivo, pelo site do teatro.

No final, um convite antropofágico: vamos para o Troca-Troca (**) na oca indígena ?
(**)Nome de restaurante montado no local que faz referência explícita à intenção de se permutar uma gleba pública pelo terreno de Silvio Santos, pleiteado, há anos, pelo Teatro Oficina (http://teatroficina.uol.com.br/)

(*)Ylton Amaral é jornalista

                                 

Um comentário:

  1. Bem interessante Fiquei curioso para conhecer o trabalho do Teatro Oficina. Parabéns, Ylton.

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