Maior urbanista brasileiro, Jaime Lerner diz que São Miguel do Gostoso não pode perder sua identidade

Por Emanuel Neri

O arquiteto e urbanista Jaime Lerner, 74, é aquele tipo de profissional que faz tudo – e tudo que faz, faz muito bem. Além de arquiteto e urbanista de primeira, Lerner é administrador público, escritor, roteirista de cinema e designer – atualmente desenvolve o protótipo de um mini carro elétrico (foto) com autonomia de 100 km e velocidade máxima de 25 km/hora. Mas o que mais marca a vida profissional de Lerner é sua atividade como urbanista.

Lerner é seguramente o maior urbanista do Brasil. Suas duas administrações como prefeito de Curitiba (PR) fez com que a cidade passasse a ser uma referência mundial de sustentabilidade, mobilidade urbana e diversidade cultural. Depois, com o mesmo foco com que administrou Curitiba, foi governador do Paraná por duas vezes. De férias em São Miguel do Gostoso, Lerner está encantado com a autenticidade da cidade.

Na última segunda-feria (2/1), Lerner conversou com exclusividade, por mais de uma hora, com o noBalacobaco. Lerner quer que São Miguel do Gostoso faça tudo para conservar sua autenticidade e identidade culturais. Segundo ele, são valores que, bem trabalhados, farão desta cidade um modelo único de atração turística no mundo.

Lerner também adora a palavra Gostoso – e acha que isso pode ser trabalhado em benefício da cidade. Veja, abaixo, suas principais considerações sobre São Miguel do Gostoso:

“Não devemos fazer daqui uma falsa cidade. Deve-se deixar tudo com esta cara de cidade da região, como este casario típico do Nordeste. É isso que eu gosto em São Miguel do Gostoso. As pousadas daqui são muito adequadas à região”.

“Não são resorts (grandes hotéis) que vão fazer a beleza deste lugar. Em resorts, as pessoas ficam isoladas, com gente gritando, desde cedo, te convocando para fazer exercícios físicos e outras atividades. Aqui você vive (em pousadas) como qualquer morador da região vive”.

“Não consigo ver uma frente de mar linda como esta de São Miguel do Gostoso com a existência de campos de golfe. Ficaria parecendo até como uma mulher muito bonita que usa peruca”.

“Em São Miguel do Gostoso você vive sem a pretensão da sofisticação. Não devemos deixar que São Miguel do Gostoso perca sua identidade. Muitas regiões bonitas do Brasil perderam sua identidade e ficaram sem graça”.

“Seria muito bom que São Miguel do Gostoso assumisse a sua própria narrativa: que tudo aqui fosse Gostoso. Trabalhar, morar, visitar, tudo fosse muito Gostoso. Temos que fazer as coisas adequadas, com estrutura de trabalho e vida juntos. Tudo seria muito Gostoso”.

“Aqui dá para se fazer um grande projeto, com uma cara única no mundo. Tudo devia ter referências e estar associado com o fato de ser Gostoso, prazeroso, tudo “placentero” (agradável, prazeroso), como se diz em espanhol. Criar aqui parques e outras atividades que dão prazer a quem vive e visita a cidade. Espero que alguém desenvolva esta idéia”.

Amanhã, este blog dará sequência a outros focos da entrevista que o arquiteto e urbanista Jaime Lerner deu ao noBalacobaco.