terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ofensas contra Lula e campanha para que ele faça tratamento no SUS são vistas como preconceituosas

Por Emanuel Neri

De repente, uma campanha nas redes sociais pede para que o ex-presidente Lula procure o SUS (Serviço Único de Saúde) para tratar do câncer diagnosticado na sua laringe. Lula tem plano de saúde há vários anos, tem dinheiro para pagar um tratamento hospitalar e, mesmo assim, internautas –identificados com setores raivosos da oposição ao ex-governo e o da presidenta Dilma – pedem para ele ser tratado no SUS.
A campanha do SUS é até branda diante das grosserias e insinuações desumanas feitas ao ex-presidente. Muitos analistas têm criticado esta campanha. O jornal Folha de S. Paulo suspendeu a participação de comentários feitos por “anônimos” em seu serviço online (Folha Online) para evitar ataques a Lula. Para estudiosos do tema da intolerância, esta campanha é puro preconceito de pessoas que não aceitam a ascensão social de Lula.
Veja o que diz, abaixo, pesquisadora da Universidade de São Paulo, em entrevista ao Portal Terra:
Do Terra Magazine
Dayanne Sousa
“A notícia de que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva passará por um tratamento contra câncer na laringe no hospital Sírio Libanês foi recebida com protestos em redes sociais. Na internet, um grupo pede que o petista utilize hospitais públicos e o Sistema Único de Saúde (SUS). Para a pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Sandra Regina Nunes, "as críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido".
- Por que não se faz uma manifestação para que todo mundo use o SUS? A questão é menos de fidelidade com os ideais políticos e mais um preconceito. É como se questionassem: "Por que Lula tem que se tratar no Sírio Libanês? O lugar de onde ele veio não permite que isso aconteça" - questiona Sandra, membro do Laboratório de Estudos da Intolerância e professora de comunicação da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).
Uma campanha no Facebook pedindo que Lula se trate no SUS já ganhou mais de 800 adeptos. Os internautas também se organizam para divulgar as críticas em sites de notícias. A rede de TV internacional CNN, por exemplo, publicou a informação sobre a doença do ex-presidente e recebeu uma série de comentários irônicos de brasileiros sobre o sistema de saúde nacional.
Leia a entrevista.
Terra Magazine - O anúncio de que o ex-presidente Lula sofre de câncer foi seguido por manifestações críticas e um protesto para que ele se trate no SUS. Por que esse tipo de expressão acontece e se espalha na internet?
Sandra Regina Nunes - O que me parece é que tem algo bastante próprio daqui do Brasil. As críticas se apoiam no fato de Lula ter sido analfabeto e se tornado presidente, de ele ter ascendido. Isso é visto quase como uma afronta. Faz com que as pessoas acreditem que necessariamente ele deveria ser fiel àquilo que ele pregava. Por muitas vezes ouvi pessoas dizendo "Ah, ele era trabalhador, não podia estar usando Armani". Agora dizem que o Lula tem que usar o SUS. Não me parece que aconteceu isso quando alguém do PSDB tem algum tipo de problema de saúde. Por que não se faz uma manifestação para que todo mundo use o SUS? A questão é menos de fidelidade com os ideais políticos e mais um preconceito. É como se questionassem: "Por que Lula tem que se tratar no Sírio Libanês? O lugar de onde ele veio não permite que isso aconteça".
É curioso porque em geral anúncios como o do ex-presidente - de uma doença - geram apenas comoção...
Eu acho que as pessoas não estão tratando como doença. A ideia é mais questionar o motivo de Lula estar usando um produto de luxo.
As redes sociais ampliam esse tipo de reação negativa?
As redes sociais fizeram com que as pessoas tivessem maior liberdade de expressão. Eu acredito que as pessoas poderiam usar isso de forma mais interessante. Existem na rede movimentos bastante positivos, por exemplo, em apoio à saúde da mulher. Então, utilizar as redes sociais para dar vazão à indignação pode ser ruim, mas tem lados positivos. As redes sociais têm essa dimensão que é muito boa. É a possibilidade de expressão.
Seria papel da imprensa desestimular?
Eu acho que o gesto de expressão não deve se impedir jamais. É preciso dar voz a todo mundo. Mas o papel da imprensa deve ser pontuar o que determinadas falas representam. Ou seja, dizer que tipo de movimento é esse e o que é que ele traz.”
No link abaixo, veja vídeo, com gravação de Lula, agradecendo a milhares de mensagens de apoio que tem recebido de todo o Brasil:


Um comentário:

  1. já pensaram se ele dependesse do atendimento do posto médico de gostoso? gabriela

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