Por Emanuel Neri
A lagoa do Boqueirão, no município de Touros,
sempre foi referencial de abundância de água na região do Mato Grande (onde
está Touros e São Miguel do Gostoso), no Rio Grande do Norte. Ali existia
um verdadeiro “marzão” de água doce, suficiente para abastecer milhares de
famílias e muitos projetos agrícolas.
Pois agora a lagoa do Boqueirão está secando. Segundo o
Instituto de Gestão de Água do RN (Igarn), hoje existe menos de 60% da água
que originalmente havia ali. Nas últimas projeções do Igarn, havia em torno de
7 milhões de m3 dos mais de 11 milhões de m3 de água que existiam antes. E a situacão pode piorar.
Se houver nova medição nos dias atuais, este volume
de água da lagoa do Boqueirão pode estar ainda mais baixo.
Quem são os responsáveis pela redução drástica da água
do Boqueirão?
É claro que a seca que se prolonga no Nordeste
por vários anos é um destes fatores. Mas a culpa também é dos inúmeros projetos
agrícolas que existem no entorno da lagoa, muitos deles abastecidos por gigantescos
esquemas de irrigação. Um destes projetos é o da Itograss (foto acima, com pivô de irrigação), que produz grama em
alta quantidade naquela região.
Pois é exatamente a Itograss que é apontada
pelos moradores do Boqueirão como a responsável pela escassez de água na
região. Mais do que a redução da água, esta lagoa também está sofrendo uma
espécie de “desertificação” em suas margens. Lama seca rachada e grandes áreas
desmatadas são os cenários dos dias atuais em toda a região que envolve a lagoa.
Mas, para os moradores do Boqueirão, um dos distritos
de Touros, onde está localizada a lagoa, o “vilão” desta história é mesmo a Itograss. Por
este motivo, estes moradores, junto com a Câmara Municipal de Touros,
realizaram audiência pública nesta segunda-feira (28/11), com a participação de
centenas de pessoas, entre elas a direção da Itograss.
Foram mais de seis horas de acalorada discussão.
De fato, a Itograss tem 170 hectares de grama cultivada no entorno da lagoa do
Boqueirão - há ainda mais terra sem ser cultivada. A empresa é uma das maiores produtoras de grama do Brasil e responsável
pelo abastecimento de quase todo o
Nordeste. Cada hectare corresponde a 10 mil metros quadrados.
Numa comparação para tornar a explicação mais
fácil, um hectare corresponde, grosso modo, a um pouco menos que um campo de
futebol. Então, segundo os moradores, há em torno de 240 campos de futebol cultivados com
grama. Para os moradores, só a Itograss consome em torno de
17 milhões de litros de água por dia.
De fato, dados técnicos indicam que há
necessidade de 10 litros de água para cada metro quadrado de grama cultivada. Mais: cada ser humano, segundo a ONU, necessita de 110 litros de água por dia para seu consumo e higiene. Por aí você vê o tamanho da enorme quantidade de água (17 milhões de litros) para irrigar os campos de grama da Itograss.
Além disso,os moradores dizem que a Itograss emprega pouca gente – apenas 40 empregos diretos e outros 100 indiretos. Eles também acusam a Itograss pelo desmatamento em toda a região e pelo uso de defensivos agrícolas para o cultivo de grama em seus enormes campos de plantio.
Além disso,os moradores dizem que a Itograss emprega pouca gente – apenas 40 empregos diretos e outros 100 indiretos. Eles também acusam a Itograss pelo desmatamento em toda a região e pelo uso de defensivos agrícolas para o cultivo de grama em seus enormes campos de plantio.
Baseados em dados como estes, os moradores do
Boqueirão estão exigindo a retirada da Itograss das margens da lagoa do
Boqueirão. E compareceram à audiência pública desta segunda vestindo camisetas
verdes onde se lia, no peito, “Fora Itograss”, enquanto nas costas
estava escrito: “Eu não como grama”.
Foi uma guerra dura para a Itograss. Os moradores
acusam a empresa de se abastecer não só na lagoa como de captar água do subsolo
do entorno da lagoa com potentes motores de até 100 cavalos de potência. É
muita água que sai do lençol freático da região – para os moradores, isso pode
afetar o abastecimento humano da região.
Na opinião dos moradores do Boqueirão – e de Touros, também
presentes na audiência pública – o processo de capacitação de água da Itograss
está secando o rio que passa pela cidade de Touros. Líderes do movimento acham
que a retirada de água do subsolo afeta outras lagoas da região, como a lagoa
do Coelho, em Cajueiro (Touros).
Esta é uma batalha ambiental, e econômica, por
envolver uma grande empresa, que ainda pode gerar muito barulho. A Itograss se
defende, alega que outras empresas também captam água na região e diz estar
disposta a negociar com os moradores. A empresa quer apresentar contrapartidas
sociais e ambientais para enfrentar o problema.
Seja como for, estamos diante de um problema ambiental. As autoridades ambientais do RN precisam se posicionar e dizer se a Itograss é ou não a “vilã” da “desertificação” no Boqueirão, de Touros
e até de outros municípios, como São Miguel do Gostoso, onde a lagoa do Cardeiro
está vazia, sem quase sinal de água.
Este é o debate ambiental que está na mesa. A Itograss
precisa ceder para poder consumir menos água e causar menos impactos
ambientais. Mas os moradores também precisam sentar na mesa de negociação para encontrar
soluções, sem o “Fora Itograss”, mas com foco na redução e no consumo sustentável da água, bem como em
contrapartidas sociais para a região.
Abaixo, links sobre consumo de água por
habitantes, uso de água na agricultura, bem como o acesso ao blog “Fala Meu Povo”,também disponível no You
Tube, de Touros, que tem acompanhado mais de perto a batalha entre moradores do
Boqueirão e a Itograss.
Plantar grama nessa região seca e utilizar água das lagoas e do lençol freático parece mais uma piada de mal gosto. A lagoa do Coelho está agonizando. Com certeza depois de secar toda a água da região essa Itograss vai dar uma banana para o povo e procurar novos lugares com água aonde encontre outros otarios iguais ao que encontrou em Touros.Aquilo vai virar uma paisagem lunar sem uma gota d água. Socorro !!!!!!
ResponderExcluirNatanael
Realmente nunca concordei com essa itogras que não trás retorno nenhum para o município, somente destrói o meio ambiente e lucram absurdos. #foraitogras
ResponderExcluirCerto que essa empresa é a maior consumidora dágua da lagoa do Boqueirão, mas também deve olhar para tantas irrigações que consumem também, para cortar o mal pela raiz tem que ser geral o corte no abastecimento dágua, só assim a lagoa sobrevirá, caso contrário já era.
ResponderExcluirIsso é crime ambiental sério. Ministério Público já. .......
ResponderExcluirDepois que a água acabar não venham orar para Jesus mandar água porque ele deu ao povo e este não tomou conta
ResponderExcluirCaros amigos, primeiramente seria necessário um estudo técnico para confirmar o dano ao meio-ambiente por parte desta empresa específica, e de outras empresas. Confirmado que a atividade da empresa está causando dano ao meio-ambiente, turístico ou paisagístico, não é necessário esperar pelo Ministério Público. Qualquer associação ou ONG voltada ao meio-ambiente ao patrimônio histórico-paisagístico (como a AMJUS. e.g.) pode ajuizar Ação Civil Pública contra danos ao meio-ambiente para que se interrompa os agentes causadores. É necessária uma iniciativa urgente por parte das associações de proteção.
ResponderExcluirO negocio é assustador
ResponderExcluirParabéns pala matéria, vou repassar aos meus clientes!
ResponderExcluirhttp://www.gramanobre.com.br/grama-esmeralda