Por Emanuel
Neri
A Mostra de
Cinema de Gostoso obteve grande êxito de mídia e deu enorme
visibilidade a São Miguel do Gostoso.
Jornais e
TVs de várias cidades do país abriram espaços para este evento que mostra o
que há de melhor no cinema nacional, em um telão na beira da praia do Maceió,
em São Miguel do Gostoso.
De todas as
reportagens, talvez a mais representativa - com texto bem-humorado e referências emocionantes
à cidade e à sua população – foi escrita pela jornalista Cristina Ramalho, para o Jornal Valor Econômico (edição de 5/12),
de São Paulo. O Valor é o maior jornal de economia e negócios do país.
Por este
motivo, o noBalacobaco reproduz esta reportagem. Veja a seguir:
O cinema e a praia
Cinco
dias de cinema à beira-mar – matéria para o VALOR
Por
Cristina Ramalho
Sábado,
terceiro dia da mostra de cinema em São Miguel do Gostoso. A tela fica ao ar
livre, plateia de pé na areia, bem diante do mar. Durante a projeção de Branco
Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, o público está acompanhando o drama
dos personagens que sofrem em Ceilândia, cidade satélite de Brasília, quando
estrelas cadentes cortam o céu de soneto de Gostoso. Espectadores olham para
cima, um ou outro cutuca o vizinho de cadeira, sorrisos se abrem, como se as
estrelas, as de verdade, tivessem um papel na trama. E por um instante São
Miguel do Gostoso virou a Macondo mágica do Gabriel Garcia Marquez.
De 13 a
18 de novembro essa encantadora cidadezinha de praias lindas e bons ventos para
o kitesurf, a 1h30 de Natal, RN, recebeu a Segunda Mostra de Cinema de Gostoso,
criada e organizada pelo diretor Eugenio Puppo e seu assistente Matheus
Sundfeld, da Heco Produções, junto com o Coletivo de Direitos Humanos,
Ecologia, Cultura e Cidadania da comunidade local. Cinco dias, 62 filmes
brasileiros recentíssimos, debates com realizadores e jornalistas de várias
cidades, uma programação matinal só para crianças, à noite o cinema com telão
impecável, som de primeira e 640 cadeiras, curadoria elogiada pelos convidados,
patrocínio da Cosern, toda uma estrutura que surpreendeu os convidados.
Mas o que
faz dessa mostra algo tão especial é sua natureza arejada. A praia, aqui, é
muito mais do que o cenário. É um personagem ativo, com enredo, humor,
psicologia. Pescadores e moradores se misturam aos turistas, entram e saem como
se chegassem para tomar um sol, posam com a família para fotos na frente do
cartaz da mostra, crianças passam correndo, todo mundo se conhece, a conversa
fiada de cervejinha na mão.
Não há
ingressos: na entrada, o público recebe cédulas de votação, e dá uma nota de 1
a 5 para cada filme. As cadeiras são de plástico, dessas de praia, e se a
sessão lota, basta se esticar na areia. Uns falam alto, dão risada, emitem
opinião no meio como se estivessem na sala de casa, vendo TV, e na real é isso
mesmo. A grande maioria dessa turma nunca tinha ido ao cinema na vida.
O que não
impediu os gostosenses de mergulharem nas histórias. No documentário Abraço
de Maré, um curta do potiguar Victor Ciriaco, uma mulher conta como é estar
casada com o pescador, a falta de vergonha dele, passando faceiro com moça mais
nova diante dela, também a falta de dinheiro de todo dia, a vida nem sempre
moleza numa casinha à beira d’água. Na plateia, mulheres reais se reconhecem no
ato, riem alto, comentam dos próprios maridos como se conversassem ao vivo com
a moça da tela.
Domingo à
noite, exibição do longa A História da Eternidade, do pernambucano
Camilo Cavalcante, um retrato de um sertão estilizado, clima de fábula,
história densa. De repente veio a cena de uma avó ardendo em desejo pelo neto,
outra da sobrinha arrancando a roupa para se deitar com o tio, e na plateia um
sujeito meio grande levantou-se irado. Aquilo era demais. Anunciou em bom som,
o sotaque carregado: “Esse filme é todo er-ra-do!”. Saiu, seguido por mais uma
meia dúzia de indignados.
Teve
também o silêncio envolvente, quando o script falou direto ao coração da plateia.
Como durante a exibição do filme que o público escolheria como o vencedor da
mostra, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro. Não se
ouvia um “ a “ entre os mais de mil espectadores que se espalharam pela areia,
ou em pé lá no fundo. No final, com o gesto revelador da última cena, o público
aplaudiu animado, cúmplice. Angelo Ravazi, produtor de cinema de São Paulo que
levou os filmes De Castigo (de Helena Ungaretti), Hospedeira (de
Rita Carelli), A Era de Ouro (de Miguel Antunes Ramos e Leonardo
Mouramateus) e A Revolução do Ano (de Diogo Faggiano), escreveu mais
tarde na página do facebook da mostra que esse foi um dos momentos memoráveis
do evento. “Me deu um pouco de esperança nesses tempos tão zoados”, disse.
É o povo
de Gostoso descobrindo o cinema – e esticando o olho para o mundo além do
marzão ali na porta. Taí a intenção principal de Eugenio Puppo. “Estamos
formando o olhar do cinema aqui, e mais do que isso, o olhar da cidadania”, diz
ele. É também um projeto maior: com verba captada via lei estadual Câmara
Cascudo, Puppo e Sundfeld criaram uma turma de alunos de linguagem audiovisual
ali em Gostoso. Um curso de três anos, ministrado por professores de São Paulo
e de outras cidades, que dão módulos de roteiro, produção, filmagem, edição
para 50 alunos recrutados numa seleção entre 270 candidatos.
Quando
começaram esse projeto, no ano passado, Puppo e Matheus rodaram as estradinhas
de terra da região num carro alugado, convidando os jovens de assentamentos de
sem-terra, dos povoados próximos, a aprender o que é e como se faz cinema.
“Eu
progredi muito com o curso, quero progredir mais, me passa um monte de ideias
na cabeça e agora eu sei que posso escrever, fazer aquelas ideias virarem
histórias”, fala o magrinho Leonardo Maximiano, 24 anos, morador do
assentamento Novo Horizonte, entusiasmado com tantos outros horizontes que
antevê nas aulas. Leonardo e seus colegas de curso estão no coletivo Nós do
Audiovisual. Assinam dois curtas exibidos na mostra, o documentário Promessas
e o bem feito Nas Lonas, ficção que os meninos filmaram na feira de
Gostoso.
“Cinema é
o que eu amo fazer. Eu fico na dúvida entre cinema e jornalismo, mas acho que
cinema me toca mais, e também penso em ser atriz de teatro”, diz a bonita
Rosângela Modesto, 16 anos, sete irmãos, pais que nunca saíram dali. Ério,
compenetrado, acredita que foi selecionado porque sempre teve interesse na
linguagem audiovisual. Os outros dão risada, sacaneiam, “você nem sabia o que
era isso”. Raiane, Mércia, José Edivan, Everton, alguns que nasceram antes da
luz elétrica chegar por essas bandas, contam que agora olham tudo de outro
jeito – “A gente vê uma cena na TV e já sabe onde está a câmera, como foi
filmada, se aquilo tá legal”–, assistem clássicos nas aulas, O Nascimento de
Uma Nação, de Griffith, ou o Cidadão Kane, do Welles.
“Existe
um mercado de trabalho real para essa moçada. O mercado que mais cresce hoje é
o audiovisual, e eles aqui mesmo em Gostoso podem fazer vídeos para pousadas,
para a prefeitura, para as empresas, para a companhia de energia eólica”, diz
Puppo.
Por
enquanto, os garotos assistem o resultado das aulas na tela grande da mostra.
Os seus curtas Promessas e Entre Lonas foram exibidos no dia do
encerramento. Amigos e parentes apontam no meio da sessão: “Olha lá a Rosangela”.
“Olha a Mércia! “ . Clima de euforia. Puppo e Matheus anunciam os vencedores da
mostra e chamam realizadores para o palco. Convidados com rostos bronzeados e
vestindo bermudas elogiam a curadoria do evento, a beleza da cidade, as
peixadas da Maristela, todo mundo deslumbrado com esse festival de astral tão
leve, ensolarado.
Joaquim
Castro, diretor do documentário Dominguinhos, vencedor como menção
honrosa, recebe o prêmio com o filho Ernesto no colo, e agradece no microfone
ao seu Chico, o pipoqueiro de Gostoso. “Ele vende pipoca a R$ 1, isso é uma
maravilha, isso não existe”. Faz um vento danado. Hora de tomar uma caipirinha.
Muito bom saber que Gostoso está sendo divulgado em todo o Brasil mas existe muitos problemas aqui que já deveriam ser solucionados tais como:A segurança esse problema é grave aqui em Gostoso eu sei que todo o estado do RN está com esse problema ,porém aqui ainda é bem pequeno e pode-se resolver é só colocar a policia na rua ,na praia,em lugares que são preferidos dessa bandidagem se não houver uma ação rápida os bandidos irão tomar conta do nosso municipio e isso não agrada turista que vem de longe pensando que aqui é só tranquilidade é preciso falar a verdade pra esses turista que chegam pois muitos deixam os pertences atoa por achar que aqui ainda não existe ladrão porque os pousadeiros passam essa informação errada ou seja,mentem pra o turista melhor é exigir da prefeitura e da policia melhor desempenho na segurança pra só assim viver umas férias agradável e poder voltar no próximo verão.
ResponderExcluirSenhor Bezerril o assunto abordado é outro, me diga qual cidade de nosso país que não exista roubos e tudo mais, é muito fácil só criticar vamos também elogiar quando for preciso, fale quem quiser agora São Miguel do Gostoso é um paraíso encontrado na esquina do Brasil.
ResponderExcluirAté concordo com voce quando diz que Gostoso é o paraíso da esquina do Brasil porem devemos ser tambem um lugar seguro livre da violência urbana para só assim não perdemos o nome de paraíso sei que todo o RN e Brasil está passando por uma violencia porem aqui é ainda pequeno e tem como se resolver esses casos de roubos é só usar a inteligencia eu sou ex-policial e morei por 30 anos no Rio no bairro da tijuca e sei que se não houver uma providencia rápida os bandidos nos vence isso eu falo por experiencia não devemos só pensar em uma Gostoso bela devemos pensar em como mante-la bela e tranquila pois é disso que o povo gosta caso contrário a beleza será substituída pela violencia e isso ninguem quer por isso peço as autoridades de policia que não deixe de fazer ronda e que identifiquem as bocas de fumo isso já será um grande começo
ResponderExcluirExiste pessoas que o negócio delas é só criticar, aí eu pergunto qual cidade em nosso país que também não tenha seus problemas iguais ao nossos ou até mais?, ao anônimo acima gostaria de saber qual cidade ele pode citar que a polícia fica na rua diariamente, os roubos acontecem de qualquer maneira, pois o ladrão não avisa quando chega, só espera as oportunidades surgirem para eles colocarem em práticas seus maus feitos, o desenvolvimento quando chega também nos trás coisas que não gostamos, mas por outro lado nós hoje presenciamos a cada dia a nossa cidade crescer e gerando muitos empregos aos nossos nativos, que antes não tinham essa grande oportunidades e muitas pessoas só dependiam do poder Público Municipal para arrumar emprego, tudo isso mudou, hoje Gostoso é uma cidade conhecida quase no mundo inteiro dentro de tão pouco tempo, comparando com muitas cidades tão velhas e que estacionaram durante o tempo, a nossa cidade está de parabéns, e estamos só no começo ainda da evolução, os críticos podem dizerem o que bem pensam, talvez muitos tenham até inveja da nossa cidade, mas a realidade é que quem nos visita finda gostando e muitas vezes ficam por aqui para sempre.
ResponderExcluirParabéns São Miguel do Gostoso.
A mostra de cinema foi maravilhosa e para mim alcançou o seu objetivo, que a inclusão cultural dos moradores de nossa cidade. Agora o que tem me espantado é o que os especialistas em turismo estão dizendo sobre o Rio Grande do Norte, que está saindo da rota turística nacional e internacional. Segundo a deputada Márcia Maia, nosso estado está no final da lista de opções de férias. Somente no ano passado , Natal perdeu 2.853 voos comerciais e 200 internacionais. Segundo Ruy Gaspar , presidente do ABIH-RN, esse ano terá uma queda de 15% em relação ao ano passado,e não há expectativa de crescimento para o ano que vem, principalmente porque não há divulgação do destino lá fora, além das passagens caríssimas. Vamos torcer para que no ano que vem, com o novo governo, tenhamos mais vontade politica!
ResponderExcluirhttp://www.abihrn.com.br/novidades/682/ruy-gaspar-precisamos-renovar-criar-um-norte-para-o-turismo#.VIWnONLF-Y4
http://www.al.rn.gov.br/portal/noticias/3773/mrcia-maia-destaca-queda-no-setor-turstico-do-estado