Por Emanuel
Neri
Passava um pouco das 18h do
último sábado (9/11) quando um carro de som passou pelas principais ruas de São Miguel do
Gostoso anunciando a morte de José Mariano Soares, de 85 anos, mais conhecido
por Zé Marião, o mais famoso e consultado benzedeiro da cidade.
A morte de Zé Marião
causou grande impacto na gente simples que o procurava diariamente em sua casa, em busca de rezas, benzas e curas que
confortassem suas doenças – fossem físicas ou emocionais. Zé Marião morava no
bairro do Maceió, onde atendida, em sua casa simples, inúmeras pessoas por dia.
A fama de Zé Marião também
correu rápido pelas pousadas de São Miguel do Gostoso. Era raro o dia em que
ele não recebia turistas ou pessoas de fora, que vieram morar na cidade, que buscavam seu conforto espiritual. Não fazia distinção neste tipo de atendimento.
O noBalacobaco ouviu depoimentos de pessoas que consultavam Zé Marião. Curandeiro? Benzedeiro? Líder espiritual e religioso? São muitos as definições sobre a atividade de Zé Marião. Seja qual for a qualificação, o fato é que ele ajudava a muitos com suas rezas.
Zé Marião, segundo
estes depoimentos, era um homem silencioso. Quando se concentrava na reza,
balbuciava orações de forma muito rápida, parecendo mais a repetição de um mantra
budista. Muitos sentiam uma sensação de alivio ao ouvir estas rezas sequenciais.
Um senhor de fora que
tem casa na cidade, mas que não é religioso, descreve seus inúmeros contatos com Zé
Marião como “momentos de equilíbrio a quietude”. Admirava-o tanto que passou a levar a
ele também suas filhas, quando elas vinham à cidade, junto com netos.
São muitas as histórias
em torno de Zé Marião. Há histórias de curas as mais diversas possíveis – até estrabismo
este benzedeiro resolvia, segundo depoimentos. Ele usava três raminhos de plantas
em seu processo de benzimento – ou cura – das pessoas doentes.
Este tipo de raminho costumava
ser de uma planta chamada “manjericão bravo”. Na falta deste tipo de planta,
ele usava outras espécies. Mas o fato é que estes galhinhos murchavam no
processo da reza. Alguns murchavam mais rápido, outros mais demorados.
Se o galhinho da esquerda
fosse o primeiro a murchar, tratava-se de mau olhado de homem. Se fosse o da direita, era mau olhado de mulher. Não se sabe o motivo quando murchava o raminho do meio. Se os três murchassem rápido, era sinal de "carrego" forte.
Zé Marião era devoto de
Padre Cicero. Chegou a ir pelo menos 100 vezes, em romaria, por anos seguidos, a Juazeiro do
Norte, no Ceará, terra em que viveu Padre Cícero. Também era devoto do Bom Jesus
dos Navegantes, padroeiro de Touros, e ia a todas as suas festas.
O mais importante benzedeiro
de São Miguel do Gostoso morreu no sábado, em um hospital de Natal, onde estava
internado desde que sofreu um acidente vascular cerebral. Seu velório, na casa
em que sempre atendeu a tanta gente, teve a presença demuitos admiradores.
Zé Marião foi sepultado
na manhã deste domingo, em São Miguel do Gostoso. À falta de foto de Zé Marião,
este blog ilustra este texto com flores (foto), em homenagem a este importante líder
religioso que ajudou muita gente a superar sofrimentos.
Abaixo, veja
depoimento de Ângela Neri, uma admiradora e frequentadora assídua dos processos
de bênçãos e curas de Zé Marião.
“Simples e bondoso senhor, de mãos energéticas e um grande sorriso”
“Falar de Zé Marião é um
desafio. Sempre tive um profundo respeito por este simples e bondoso senhor. Sou
testemunha de pessoas que o procuravam – não só de São Miguel do Gostoso, como
de municípios vizinhos – para curar suas graves mazelas.
Estas pessoas deixavam de
ser atendidas por médicos – ou até já tinham passado por médicos – para receber
conforto das famosas e energéticas mãos de Zé Marião. Só em chegar na casa do
Zé Marião, no bairro do Maceió, já era um alivio para quem o procurava.
Raríssimas vezes o encontrávamos
descansando. Na sua humilde casa, havia sempre pessoas sentadas na calçada,
enquanto ele já atendia algum doente. Depois, ele sempre surgia com um
sorriso grandioso no rosto e conversava com todos, um por um.
A imagem que eu guardo
do Zé Marião era ele sentado em uma
cadeira de balanço, destas de ferro e fios de plástico, atendendo às pessoas.
“Aguarde um pouco, minha filha, que eu lhe atendo assim que acabar esta cura”,
dizia. “Todos aqui serão atendidos”.
O Zé Marião era uma
pessoa curiosíssima. Ele só atendia antes de o sol se pôr. Por isso tínhamos
que ir mais cedo para a sua casa, ficar aguardando, porque sempre tinha muita
gente para ser atendida. E todos tinham ramos de plantas nas mãos, dadas por
ele.
A casa do Zé Marião
tinha algumas imagens de santo nas paredes. Lembro de um Coração de Jesus que
ficava no centro da sala, de frente para a cadeira em que ele se sentava para atender
às pessoas. Zé Marião era devotíssimo de Padre Cícero.
Sabíamos que ele ia
todos os anos, acompanhando romeiros, a Juazeiro do Norte, no Ceará, para
visitar o túmulo de Padre Cícero. E sempre voltava com uns vidrinhos de unguentos
que, segundo ele, ajudavam no processo de cura. E parece que ajudavam mesmo.
A pequena sala em que
ele atendia tinha também uma mesinha comprida, abarrotada de
imagens de santos e crucifixos. Zé Marião não tirava do pescoço um enorme rosário,
a não ser na hora de benzer. Mas colocava o rosário ao lado da pessoa que ele atendia.
Sei que muita gente
em São Miguel do Gostoso, mesmo os turistas, procuravam Zé Marião, para receber
suas bênçãos. Sei de casos incríveis que passaram pelas mãos deste bondoso
senhor. Mesmo na minha família, muitas pessoas procuraram sua ajuda.
A mais curiosa foi a
de uma irmã, que havia comprado um carro, mas sentia mal-estar e vômitos sempre
que entrava no veículo. Procurou Zé Marião e ele foi logo dizendo: “Se desfaça rápido
deste carro. Ele já sofreu um grave acidente e seu dono morreu dentro dele”.
Minha irmã trocou
imediatamente o carro e nunca mais sentiu absolutamente nada. Mistérios? Zé Marião também atendia à distância. Quando
o doente estava muito debilitado, bastava enviar uma peça de roupa, para ele curar. E
o efeito também era positivo.
Zé Marião vai fazer
muita falta à população de São Miguel do Gostoso que acreditava em suas rezas.
Mas ele se foi, junto com sua espiritualidade maior que o ajudará, nesta viagem,
a ser recebido de braços abertos aonde quer que ele chegue, coberto de luz e muita paz.
E ao sentir sua falta, meu
generoso e bondoso senhor, levantarei os olhos ao firmamento e lhe enxergarei
através das estrelas”.
LEMBRO MUITO DELE QUANDO MESMO PESCAVA DE TRESMAIO NA PRAIA DAS CANAUBAS
ResponderExcluir"Na memória de quem ama não há lugar para o esquecimento, só para a saudade daqueles que durante a vida nos trouxeram tanta alegria. Sentirei sua falta.
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