domingo, 15 de julho de 2018

Lagoa do Cardeiro rompe (ou é rompida) para o mar. Mas moradores fecham a vala para a lagoa não secar


Por Emanuel Neri
Para alegria de uns, e tristeza de outros, finalmente a Lagoa do Cardeiro, em plena área urbana de São Miguel do Gostoso, abriu uma vala para o mar – espontaneamente ou não – e suas águas, em grande parte, acabaram indo embora. É provável que mais da metade das águas da lagoa escoaram para o mar.
O rompimento da estreita faixa de terra que separava a lagoa do mar ocorreu na manhã do último sábado (foto acima). A Prefeitura diz que o rompimento foi natural. Algumas pessoas têm dúvidas. O fato é que o rompimento da lagoa, conhecida por “abertura da barra”, foi um grande acontecimento na cidade, mobilizando pessoas contra, talvez a maioria, e a favor.
No domingo (15/7) à tarde, depois da divulgação deste post, um grupo de moradores foi à lagoa e, no braço, usando pás e baldes com areia, fechou a vala por onde a água estava escoando para o mar. Mais tarde, a Prefeitura colaborou com a operação. Usou uma retroescavadeira para completar o serviço de fechamento da vala. Se isso não tivesse sido feito, é provável que toda a água da lagoa iria escapar para o mar.
Entre a abertura da vala e, depois, seu fechamento pelos moradores, foi mais de um mês com a lagoa funcionando com sua capacidade máxima de armazenamento e suporte de água. O acesso a algumas praias – como Santo Cristo e Cardeiro – ficou bloqueado e houve outras sérias consequências da super enchente na lagoa. A rua da Xepa foi inundada, causando grandes prejuízos  a bares e restaurantes.
É claro que alguma coisa precisava ser feita. Mas, do jeito que ocorreu, foram grandes os danos à natureza. A primeira delas é o esvaziamento quase completo da lagoa, destruindo um dos mais importantes ecossistemas locais e um dos mais bonitos cartões postais da cidade. Houve outros danos ambientais com o escoamento da lagoa.
Depois que a lagoa escoou para o mar, dá para se tirar algumas conclusões em torno da batalha pelo esvaziamento ou não da lagoa. Um deles é a conscientização de moradores locais. Boa parte da população chegou a ocupar o local para evitar o crime ambiental que seria provocado pelo escoamento da lagoa para o mar.
No início da semana passada, os moradores descobriram que pessoas, de  madrugada, cavaram uma vala par esvaziar a lagoa. Munidos de pás, muitos moradores foram ao local, ainda pela manhã e, em pouco tempo, fecharam a vala. Nos dias seguintes, muitos deles fizeram plantão à noite, no local, para evitar o fim da lagoa.
Foi uma luta bonita de conscientização ambiental. Para estes moradores, os responsáveis pela super cheia da lagoa foram os proprietários que construíram seus imóveis – incluindo pousadas e restaurantes – em áreas da lagoa. Para estes, o mais importante era preservar a lagoa como estava, a qualquer custo.
É provável que houvesse outras soluções menos radicais do que a abertura da lagoa, mesmo que tenha sido espontânea, para o mar. O Idema, órgão ambiental do RN, propôs uma espécie de drenagem, com o uso de motores potentes e sifões, para que as águas conseguissem baixar a níveis adequados, sem rompimento.
Mas nada disso foi feito. E aparentemente houve um descuido da Prefeitura com a situação da lagoa.  Se a poder municipal tivesse seguido a orientação do Idema, a lagoa não teria sido aberta, mesmo espontâneamente, para o mar. O mais importante era salvar a lagoa, evitando o pior, o que acabou acontecendo.
Parece mesmo que a Prefeitura dormiu no ponto diante de ações que poderiam ter salvado a Lagoa do Cardeiro. É verdade que, apesar do esforço do secretário de Obras e Meio Ambiente da Prefeitura, Fernando Castro, ao detectar o problema com antecedência e agir para que a situação não se agravasse, o poder municipal foi lento na adoção de medidas que resolvessem efetivamente a situação crítica da lagoa.
O esvaziamento da lagoa, mesmo sem ser a medida mais adequada, liberou os acessos para as praias. O caso da rua da Xepa, onde a inundação trouxe prejuízos a bares e restaurantes, também foi resolvido. A situação da Xepa  era crítica. Moradores e clientes estavam praticamente impedidos de transitar  por ali.
Agora, que a lagoa escoou para o mar, restam alguns ensinamentos.
Um deles é que a Prefeitura (e aí também inclui administrações anteriores) tem que evitar construções em áreas da lagoa. O outro é a necessidade de iniciativas práticas com mais rapidez e eficiência, como a sugerida pelo Idema, sem esperar pela situação extrema  - quando a força das águas provavelmente forçou o rompimento da lagoa.
Outro importante ensinamento deste episódio é a conscientização ambiental de grande parte dos moradores da cidade, culminando com o fechamento, no braço, no domingo, da vala que havia sido aberta para a água escoar. A batalha em torno da Lagoa do Cardeiro será, sem dúvida, um marco importante nas questões ambientais de São Miguel do Gostoso. Pelo jeito, nada na questão ecológica vai ser como antes.
Uma certeza. A preservação da natureza em São Miguel do Gostoso está em outro patamar. Com a batalha em torno da lagoa, ficou claro que parte da população não vai mais aceitar que crimes ecológicos ocorram na cidade sem que haja resistência.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Lagoa do Cardeiro atinge seu nivel de água mais alto. Solução tem que ser ambiental, controlada por Idema


Por Emanuel Neri
E mais uma vez a Lagoa do Cardeiro, em plena área urbana de São Miguel do Gostoso, volta a preocupar moradores da cidade e órgãos municipais e  ambientais do Rio Grande do Norte.
Com as chuvas do último final de semana, quando choveu torrencialmente por mais de 24 horas, a lagoa voltou a transbordar. O acesso para a praia do Santo Cristo foi invadido pelas águas, impedindo a passagem de veículos de moradores e de turistas de pousadas e restaurantes daquela praia.
É grave a situação da Lagoa do Cardeiro. Acredita-se que a lagoa nunca tenha chegado a um volume de água tão grande como o atual. Além do Santo Cristo, o acesso à praia do Cardeiro também está prejudicado. A água já invade pousadas, restaurantes e residências à margem da lagoa. Lamentavelmente, muitas propriedades ali tinham invadido ilegalmente as margens da lagoa.
O que fazer para amenizar os problemas causados pela Lagoa do Cardeiro?
Em anos anteriores, ao menor sinal de inundação desta lagoa moradores da região abriram acesso para que a água escoasse para o mar (veja foto acima, com lagoa quase sem água). A lagoa se esvaziava, arrastando em suas águas milhares de peixes e outras espécies marinhas. Era um crime ambiental para o qual muita gente fechava os olhos.
Agora, quando os olhos de órgãos ambientais estão voltados para São Miguel do Gostoso, esvaziar a lagoa é uma alternativa que sequer se pode pensar. Se alguém, como se fazia antes, abrisse a lagoa para o mar, seria multado e processado por órgãos ambientais, como o Idema, que cuida do meio ambiente no RN.
A própria população local, com poucas exceções, também se conscientizou de que a lagoa não pode ser esvaziada. No início desta temporada de chuvas, quando esta possibilidade foi levantada, houve quase um levante na cidade contra a medida. A regra é esta: a lagoa do Cardeiro tem que ser preservada, a qualquer custo.
É claro que as águas da lagoa também não podem impedir moradores de chegarem às suas casas nem turistas de se instalarem em pousadas. O que fazer, então? A Prefeitura tem optado quase sempre por paliativos. Joga areia nos acessos para os carros passarem.  Aí as águas sobem e alagam tudo novamente.
O fato é que, obrigatoriamente, toda e qualquer solução para o problema da Lagoa do Cardeiro passa pela orientação de um órgão técnico e ambiental. E este órgão se chama Idema, que está há algum tempo estudando o problema e já tem um relatório técnico com orientações sobre o que deve ser feito.
Estava prevista para esta segunda-feira (9/7) reunião da Prefeitura local com o Idema, para saber o que deve ser feito. O problema é que a Prefeitura demorou muito para buscar junto ao Idema uma solução deste problema. Para o Idema, pode haver uma espécie de drenagem para baixar as águas da lagoa.
Mas o Idema não admite, em nenhuma hipótese, que se abra a lagoa para o mar, o que antes era conhecido por “abertura da barra da lagoa”. Segundo o Idema, solução como esta causaria enormesdanos à natureza. O Idema também pensa na criação de uma Área de Preservação Permanente (APP) para o local.
Seja como for, a solução para a Lagoa do Cardeiro passa também pelo envolvimento da população de São Miguel do Gostoso. A lagoa é um dos mais bonitos cartões postas da cidade e importante santuário da natureza local. Nada pode desfigurar este paraíso. A preservação da natureza está acima de tudo.
Se você é de São Miguel do Gostoso, alie-se a este movimento para salvar a Lagoa do Cardeiro.  Acompanhe o que a Prefeitura pretende fazer depois de receber orientação do Idema. Não deixe aquele paraíso morrer. A Lagoa do Cardeiro é um dos nossos maiores patrimônios naturais - e tem que ser preservada.  
Abaixo, post anterior deste blog sobre manifestações de moradores locais contra o esvaziamento da Lagoa do Cardeiro. Veja também posição do Idema (nos Comentários) sobre a situação da lagoa.