Por Emanuel Neri
O 31 de agosto de 2016 vai entrar
para a História do Brasil como um dia triste para a democracia do nosso país.
Neste dia, por volta das 13h, o Senado votou pelo
afastamento definitivo da presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita, em
2014, pelo voto de quase 55 milhões de brasileiros. O conservador Michel Temer (foto) é o novo presidente do Brasil.
Os 61 senadores que votaram
pelo afastamento de Dilma – 20 votaram contra – sabem que deram um golpe de
Estado. Não foi provado um único crime de responsabilidade contra a agora
ex-presidenta. Inventaram uma tal “pedalada fiscal” que, mesmo sem ser
comprovada, levou ao impeachment de Dilma.
Então, se não há crime de responsabilidade – Dilma não praticou
nenhum delito contra a Nação – a palavra golpe é a única definição correta para esta
manobra suja do Congresso. O golpe foi parlamentar, a exemplo do que já havia
ocorrido há pouco tempo atrás no Paraguai. Triste América Latina.
Para a imprensa estrangeira
e organismos internacionais que acompanharam os últimos acontecimentos do
Brasil, houve, sim, um golpe de Estado. Quem está por trás do golpe? Partidos, PSDB
à frente, reforçado mais recentemente pelo PMDB, que boicotam o governo Dilma
desde que ela ganhou a eleição de 2014.
Para quem conhece o
posicionamento deste blog, sabe que o noBalacobaco
não poderia ficar omisso a este triste acontecimento da democracia
brasileira. O Brasil democrático está de luto. Ganharam os conservadores
senadores e deputados, em sua maioria corruptos e comprometidos com o atraso do
país.
Nada menos que dois terços do Congresso, incluindo Câmara dos
Deputados e Senado, respondem pelos mais diversos tipos de crimes, inclusive
homicídios e desvio de dinheiro público. Que moral então têm estes
parlamentares para afastar uma presidenta contra quem não se provou um único
crime?
E o pior de tudo isso é que
a principal vítima não é Dilma Rousseff. Quem mais vai sair perdendo contra
esta rasteira na democracia brasileira é o povo. Podem aguardar para ver o que
vem por ai. Conquistas trabalhistas e sociais que levaram anos para serem
conquistadas vão ser rapidamente revogadas.
O governo do suspeito Michel
Temer – que já foi citado no esquema Lava Jato como tendo se beneficiado de
propinas – vai passar um rodo em tudo quanto foi avanço social dos últimos
tempos. Tudo para agradar uma burguesia, entre as quais a Federação das
Indústrias de São Paulo (Fiesp), que se beneficia do atraso do país.
E o serrote conservador de Michel
Temer já começou a funcionar. No último final de semana, o governo anunciou o
fim do programa de combate ao analfabetismo. É uma nódoa para qualquer Nação o
fato de se evitar que analfabetos aprendam a ler e escrever – e, assim, tornem-se
cidadãos.
E aguardem mais cortes nas
conquistas sociais. O governo já anunciou que cortará parte do Bolsa Família, programa
que dá de comer a famílias famintas do país, e ao Minha Casa Minha Vida, maior
projeto de habitação popular já feito no Brasil. Todos estes programas foram
criados nos governos Lula e Dilma.
Outros alvos também estão no foco de um dos governos mais retrógrados
que este país está para conhecer nos últimos anos – talvez até mais insensível do que o
período da cruel ditadura militar, que governou o país entre 1964 e 1985. A
Previdência vai ser alterada, aumentando-se o prazo para aposentadorias.
A mesma navalha de Temer
vai desfigurar a CLT, que garante direitos mínimos para os trabalhadores
brasileiros. Criada em 1943, ou seja, há mais de 70 anos, a CLT corre o risco
de não dar mais garantias mínimas ao trabalhador, como férias, décimo terceiro
e horas extras. Quem vai ganhar com isso?
Outro alvo de Temer é o projeto
de Transposição do Rio São Francisco, criado por Lula, para dar água a milhões
de nordestinos que sofrem os terríveis efeitos da seca. Querem maior crueldade
do que isso? Preparem-se porque vem aí uma nova Indústria da Seca – até água
serve para ser trocada por votos.
Ah, sim, programas como Prouni,
que levou milhares de estudantes pobres às universidades, principalmente
negros, também vai ser em parte rifado. O mesmo vai ocorrer com o Fies. E o Ciências
Sem Fronteiras, que levou estudantes brasileiros a universidades do exterior, vai
ser igualmente limado.
Tem mais. O governo já anunciou que vai privatizar áreas da
saúde e da educação. Pior. Quer entregar de mão beijada o Pré-Sal para a exploração
de grandes petrolíferas estrangeiras – ou seja, o petróleo que sempre foi do
Brasil (lembram-se do “Petróleo é Nosso?”) agora também será de países estrangeiros.
Assim será o governo de Temer
que, oficialmente, começou às 16h desta quarta-feira, 31 de agosto de 2016,
algumas horas após o afastamento definitivo de Dilma Rousseff. Anotem: o
governo Temer, apoiado por oportunistas e corruptos, vai mergulhar o país num
abismo sem precedentes.
Triste do Brasil, que tem
uma elite conservadora que não consegue conviver com um país com distribuição
de renda e igualdade social na base de sua população predominantemente pobre. Para esta elite –
se quiser, pode chamar de burguesia – quanto mais atraso, melhor para o seu
domínio sobre a sociedade.
É quase um retorno do período escravocrata.
O norte-americano Gleen Greenwald, um dos
maiores jornalistas do mundo, ganhador de todos os principais prêmios do
jornalismo internacional, assim definiu o golpe que acabou de acontecer no
Brasil. “A burguesia cansou de perder eleições. Então, em vez de continuar
tentando, resolveu destruir a democracia”.
Nos links abaixo, uma série
de textos para você entender melhor o que está por trás do golpe de 31 de
agosto de 2016 que, seguramente, é um dos maiores retrocessos institucionais do Brasil desde o
golpe militar de 1964.