Por Emanuel Neri
Ainda sobre as vaquejadas
que acontecem em São Miguel do Gostoso e em muitas cidades do Brasil. Tradição ou maus-tratos a animais?
Na semana passada, este blog
escreveu sobre uma vaquejada que ocorreu há alguns dias em São Miguel do
Gostoso. Houve uma enorme reação de leitores – alguns contra e a maioria a favor das vaquejadas.
Os que são a favor das vaquejadas entendem que se trata de uma manifestação
cultural, que deve ser mantida.
Parte dos argumentos dos que
defendem as vaquejadas é sofrível. Uma das alegações é a de que este
blog – e pessoas que exploram o setor turístico na cidade – são contrários a
vaquejadas por que é um evento para pobres e não para ricos, que atraia
turistas à cidade para lotar pousadas e restaurantes.
Trata-se de um argumento ridículo e atrasado sob o ponto de vista
das leis do país e de quem defende um mundo mais respeitoso e civilizado, sem maus-tratos aos animais. Esta história de dizer que vaquejada é tradição cultural e, por
isso, tem que ser mantida está caindo por terra devido à brutalidade sofrida
pelos animais.
A vaquejada, assim como outras
práticas tradicionais que maltratam animais, estão sendo proibidas em todo o
Brasil. Quem não se lembra das brigas de galo? Era tradicional, sim, mas
maltratava gravemente galos que participavam das disputas – muitos ficavam
cegos devido a bicadas e outros morriam na briga.
Pois vá organizar ou
participar hoje de uma briga de galo (conhecida por rinha de galo) e veja o que
acontece. A polícia te prende na hora e você, que defende a tradição -porque se
trata de briga de galo -, vai responder a crime contra maus-tratos aos animais.
Se for organizador da rinha, pode ser preso.
Outra tradição cruel que ocorria no Brasil era a chamada “farra
do boi”, que acontecia em Santa Catarina. Um boi era solto e pessoas saiam à
cata do animal, armados de pedaços de madeira e de outros objetos. O objetivo
era dominar o boi a pauladas, muitos até à morte. Isso também está proibido.
A vaquejada é tão cruel quanto a briga de galo e a farra do boi. Na vaquejada, bois e
cavalos são vítimas de extrema crueldade, uma espécie de tortura. Bois quebram pernas e têm parte do rabo
arrancada. Muitos deles morrem com a queda. Cavalos levam esporadas na barriga e
chicotadas, dos vaqueiros, para correrem mais rápidos.
Estamos diante de uma manifestação cultural ou de uma cultura de
maus-tratos aos animais que deve ser abolida no Brasil?
Já há Estados, como São Paulo, que proibiram vaquejadas. Cidades
como Fortaleza e Brasília adotaram a mesma medida. O Supremo Tribunal Federal (STF) vai
julgar ação de inconstitucionalidade contra lei estadual do Ceará que
regulamentou a prática da vaquejada como “manifestação desportiva e cultural”.
A proibição de maus-tratos aos animais
está prevista no artigo 225 da Constituição brasileira. Então é bem provável
que o STF proíba também as vaquejadas em todo o território nacional, a exemplo
do que fez com as brigas de galo e a farra do boi. Será mais um sinal de
sintonia do país com a civilidade.
No caso da vaquejada de São Miguel
do Gostoso, ela aconteceu nos últimos dias 18 e 19 de março, em uma área da família Teixeira. Na cidade,
esta prática também ocorre em outros terrenos, pertencentes a outras famílias (Agostinho
e Araújo). Estes eventos tem agravante
pelo enorme barulho que causam.
Na noite da última vaquejada na
cidade, a “farra” do som alto e abusivo funcionou toda a noite do sábado e até
o meio-dia do domingo. Em áreas mais próximas ao evento, a população não
conseguiu dormir. Além disso, frequentador da vaquejada que estava bêbado
provocou acidente de carro, com morte.
Você é a favor ou não dos terríveis maus-tratos aos animais
causados em vaquejadas? Se você tiver dúvida sobre o sofrimento dos animais,
veja vídeo (primeiro dos links abaixo)
sobre esta crueldade. Em uma cena, um vaqueiro exibe orgulhoso, como um troféu,
parte do rabo do boi arrancada por ele. Horrível.
“O sofrimento alheio te diverte?”, este é o título de texto no Facebook
que reúne pessoas contrárias a vaquejadas. O Face (veja endereço abaixo) chama-se “Odeio
Vaquejada”. O Ministério Público do RN, a exemplo do que foi feito em outros cidades
e Estados, tem que pôr os olhos também em São Miguel do Gostoso.
Abaixo, links com várias reportagens sobre proibição de
vaquejadas em várias partes do Brasil, inclusive a questão do STF que se
prepara para também proibir esta cruel prática. Veja ainda post anterior deste blog sobre a
vaquejada ocorrida há uma semana - e que trouxe muitos problemas para São
Miguel do Gostoso.