sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Intolerância e ódio superam limites. Chico Buarque é agredido por ser simpatizante do PT. Isso é fascismo



Por Emanuel Neri
O ódio e a intolerância no Brasil estão passando dos limites, já beirando o fascismo. E a partir daí é só um pulo para a implantação da truculência nazista, da qual hoje o mundo civilizado se envergonha do que ocorreu há algumas décadas.
Na última segunda-feira (21/12) à noite, o cantor e compositor Chico Buarque, maior patrimônio culturais do Brasil,, foi violentamente agredido por rapazes quando saía de restaurante no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Entre outros insultos verbais, Chico foi chamado de “merda” pelos agressores.
A agressão a Chico Buarque – que na hora da ocorrência estava acompanhado do cineasta Cacá Diegues e do jornalista e escritor Eric Nepomuceno – se deveu simplesmente ao fato de o maior compositor do Brasil, orgulho da Nação, ser um homem de pensamento de esquerda e de manifestar simpatia pelo PT.
Entre os agressores de Chico Buarque estavam um rapper, Túlio Dek, famoso por produzir factóides na midia. Outro chama-se Ávaro Garneiro Filho, o "Alvarinho", filho do apresentador de TV e empresário Álvaro Garnero. Este último é um riquinho que, para aparecer, fez questão de se exibir agarrado e dando beijos no jogador de futebol Ronaldo Fenômeno (vejam foto).
O PT é bandido e quem apoia o PT é ladrão”, disseram os jovens a Chico Buarque. “Vá prá Cuba. Você tem um apartamento em Paris, petista de merda”, vociferaram os agressores do cantor. Chico Buarque não perdeu a tranquilidade. Dirigindo-se aos jovens, afirmou: “Pois eu acho que o PSDB é bandido. Vocês só leem a Veja”.
Só depois da interferência dos amigos que estavam com Chico Buarque, seus agressores permitiram que ele pegasse um taxi e se dirigisse para sua casa, também no Rio. O fato de Chico Buarque se referir ao PSDB é porque é este partido que está semeando o ódio no coração e na alma de brasileiros identificados com sua causa.
Desde que perdeu a eleição para presidente da República, em outubro do ano passado, o PSDB, sob o comando de Aécio Neves, está tentando incendiar o país. Aécio e políticos de partidos aliados, entre os quais o DEM e o PPS, não se conformam com a derrota para Dilma Rousseff, escolhida pelo voto para mais um mandato.
Aécio e sua turma da pesada jogam no “quanto pior melhor”. E instigam o ódio e a intolerância em seus seguidores, em especial em pessoas que comungam com o mesmo pensamento político pregado pelos derrotados nas urnas. Aécio quer chegar ao poder a qualquer custo. E por isso se alia a tudo quanto é tipo de gente.
Vejam bem o “vale tudo” de Aécio Neves e de seus truculentos seguidores. Achando que chega à Presidência se Dilma for cassada pelo Congresso, pela via do golpe - leia-se, impeachment - Aécio se aliou até mesmo ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, envolvido em vários casos de corrupção.
Mas a truculência de Aécio e de seus seguidores tem limites. Murchou o golpe com que ele queria derrubar Dilma, pois não há uma única acusação de prática ilegal que caracterize crime de responsabilidade, o que justificaria o impeachment da presidenta. Sem isso, aumenta a truculência a pessoas que pensam diferente deles.
Foi isso o que aconteceu com o cantor Chico Buarque. E já havia acontecido antes com inúmeros políticos e pessoas que são filiados ou se identificam com o PT. Todo mundo sabe que o PT cometeu sérios pecados no governo – do mesmo jeito que outros partidos também fizeram, entre os quais o PMDB e o PSDB de Aécio Neves.
Mas estes “pecados” do PT não justificam a truculência com que simpatizantes do PT, como é o caso de Chico Buarque, sejam “apedrejados” em via pública. O que está ocorrendo no Brasil envolve um risco seríssimo de o país mergulhar numa crise sem saída, com convulsão social, caminho aberto para o controle fascista do país.
O fascismo é uma forma de radicalismo político com o objetivo de controlar o poder pela via autoritária. E é isso que vem acontecido no Brasil, pondo historiadores, artistas e intelectuais em estado de alerta. Quando alguém não concorda com o pensamento político do outro, quer vencer na porrada – e isso é puro fascismo.
Abaixo o ódio, a intolerância e o fascismo no Brasil. Não é este o caminho que o país quer. Pessoas truculentas, como as que agrediram Chico Buarque e tantas outras pessoas por terem simpatia com o PT, são selvagens políticos incapazes de conviver com a democracia. Este tipo de agressão está chegando ao limite e merece um basta.
Abaixo, farta repercussão sobre a agressão a Chico Buarque e definição sobre o que é fascismo. Chegou a hora de pessoas do bem se levantarem contra esta onda de ódio e intolerância que ameaça levar o país para o buraco – porta aberta para o fascismo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Acontecimentos políticos aliviam crise no Brasil; STF barra manobra da oposição contra mandato de Dilma



Por Emanuel Neri
E 2015 vai chegando ao fim com o Brasil ainda mergulhado em uma tremenda crise política e econômica.
Mas, na semana passada, surgiram alguns sinais de que, apesar do tamanho da crise, já há luz no fim do túnel. Foram vários os acontecimentos que mudaram um pouco o quadro de incertezas que vinha dominando o país.
Um deles foi a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de anular manobras do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para aprovar o impeachment (afastamento) da presidenta Dilma Rousseff a qualquer custo.
O STF anulou decisão de Cunha que escolhera chapa avulsa de deputados, com maioria contra Dilma, para aprovar o processo de impeachment. Outra decisão do STF foi a de delegar ao Senado – e não à Câmara, como queria Cunha e a oposição - a palavra final sobre um eventual afastamento de Dilma.
Também tiveram peso importante os atos pró e contra o afastamento de Dilma na semana passada. Na quarta (dia 16), muito mais gente foi às ruas se manifestar contra o golpe para derrubar a presidenta, armado por Cunha e políticos da oposição, do que no domingo anterior, nos atos contra Dilma.
Outra decisão importante é que a Procuradoria Geral da República pediu o afastamento de Cunha da presidência da Câmara e sua cassação. O motivo é o envolvimento de Cunha em corrupção e suas manobras para escapar do processo de punição que a Comissão Ética da Câmara abriu contra ele.
Mais mudanças. Saiu Joaquim Levy do Ministério da Fazenda, sendo substituído por Nelson Barbosa, que era ministro do Planejamento. Levy era apontado como responsável pelo arrocho econômico que o país vem passando.
E mais. Pesquisa DataFolha, divulgada no último domingo (20/12), mostra sinais de recuperação da imagem de Dilma, embora a maioria ainda reprove seu governo. O vice de Dilma, Michel Temer, que passou a conspirar contra a presidenta, também perdeu terreno e ainda sai com a fama de “traidor”.
Enfim, a semana que passou mostrou que o STF e a população não querem um impeachment – ou golpe, como alguns preferem chamar – feito à toque de caixa e sem que haja uma única acusação legal de corrupção contra Dilma.
Abaixo, artigo do filósofo Vladimir Safatle, publicado na Folha de S. Paulo, que retrata o momento enfrentado pelo país. Título do artigo de Safatle: “O álbum de fotografias do golpe”. Veja abaixo:
“Quem ainda tinha dúvidas a respeito do Brasil estar diante de um golpe travestido de impeachment viu, nesta última semana, uma série de acontecimentos reveladores. Eles demonstram claramente como, no vazio do fim da Nova República, seus antigos atores procuram alguma sobrevida, nem que seja tomando o Palácio do Planalto de assalto.
Depois de anos operando nas sombras, o vice-presidente conspirador resolveu transformar seu partido-ônibus, ou seja, esse mesmo partido em que apertando sempre cabia mais um, em uma máquina monofônica organizada para garantir que ele será, enfim, alçado à Presidência da República nos próximos meses. Como o sr. Temer sabe que esta é a única e última oportunidade da sua vida para sair das sombras em que o destino lhe colocou, ele resolveu deixar às claras sua aliança com o sr. Cunha. Vimos então, nesta semana, movimentos inacreditáveis para um partido acostumado à inércia: seu líder da Câmara "moderado" foi deposto, suas portas foram fechadas para o ingresso de políticos mais alinhados ao governo que ele quer derrubar. O próximo passo será, ao que tudo indica, selar a ruptura em janeiro.
Então, como que por acaso, logo depois de descobrirmos que o sr. Delcídio do Amaral operou fartamente esquemas de corrupção quando participava da Petrobras no governo FHC, o PSDB, liderado pelo próprio ex-presidente em seu momento Carlos Lacerda, declarou estar unido para o golpe. Não, desculpe-me, na verdade não se trata de um golpe, mas de um impeachment motivado principalmente pela indignação contra a corrupção que assola este país na última década. De fato, ninguém melhor para liderar tal indignação do que o partido de Geraldo Alstom Alckmin, de Marconi Carlos Cachoeira Perillo, partido já comandado por pessoas do quilate de Eduardo Azeredo, recém condenado a 20 anos de prisão por idealizar o mensalão. Mensalão que, segundo o próprio Azeredo em entrevista para esta Folha em 2007, abasteceu as contas de campanha... De quem? Sim, dele mesmo, do líder da indignação moral nacional: o sr. Fernando Henrique Cardoso”.
Nos links abaixo, textos sobre os acontecimentos no Brasil na última semana.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O que está por trás do pedido de afastamento de Dilma. Impeachment é golpe contra democracia



Por Emanuel Neri
Mais do que o mandato da presidenta Dilma Rousseff, o que está em jogo, diante do processo de impeachment aberto na semana passada pelo Congresso, é a consolidação da democracia brasileira. Sem democracia, este país vira uma espécie de “república das bananas” e não será respeitado pela comunidade internacional.
O Brasil inteiro sabe que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), num jogo de interesse próprio e de chantagem política contra o PT e Dilma, aceitou um processo de impeachment, que teve origem em setores da oposição (mais precisamente no PSDB), contra a presidenta, reeleita em 2014.
Envolvido no chamado escândalo do Lava Jato, Eduardo Cunha está sendo acusado pelo Ministério Público de ter contas em bancos suíços por onde recebe dinheiro de supostas práticas de corrupção. Além disso, é acusado de receber dinheiro para mudar emenda que beneficiava um banco. 
Devido a todas estas denúncias, a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados abriu processo para cassar o mandato de Eduardo Cunha e deputados do PT decidiram apoiar a cassação.
Isso foi suficiente para que Cunha, num ato de vingança e chantagem, queira tirar Dilma (foto) da Presidência. A pergunta que juristas e outros setores responsáveis da sociedade estão fazendo é a seguinte. Que credibilidade tem o deputado Eduardo Cunha para investir contra uma presidenta que teve 54 milhões de votos em 2014?
O que se questiona é que falta base legal para afastar Dilma da Presidência. Não há dúvidas de que o Brasil atravessa uma séria crise política e econômica e que há membros do PT e ex-auxiliares do governo acusados de corrupção. Mas é fato que não há uma única acusação de crimes ou outros atos ilegais praticados por Dilma.
O que há contra Dilma é uma vaga acusação do Tribunal de Contas da União (TCU), a quem cabe fiscalizar contas do governo (não faz parte do Judiciário), de que Dilma teria praticado “pedaladas fiscais” – manobras para pagar contas pública no ano de  2014, ainda em seu mandato anterior. Dilma iniciou seu segundo mandato em 2015.
Além da “contaminação” política do TCU – seus membros são ex-políticos, a maioria deles de partidos da oposição -, as contas de Dilma referentes ao seu mandato anterior já haviam sido aprovadas pelo mesmo tribunal.  Então como julgar Dilma por eventuais falhas em contas públicas ocorridas ainda durante seu mandato anterior?
O que está por trás do impeachment é uma jogada política irresponsável que vai  agravar a crise política e econômica do país. Como fazer o Brasil sair da crise se há um processo de afastamento da presidenta da República? Qual o investidor, nacional ou estrangeiro, que vai investir em um país em crise, próximo a uma convulsão social que pode levar o país à bancarrota?
Na verdade, esta crise começou desde novembro do ano passado, quando a oposição – mais precisamente o PSDB – não aceitou a derrota, por uma diferença relativamente pequena, do candidato Aécio Neves. Alegou inicialmente ter havido fraude na eleição, o que foi prontamente desmentido pela Justiça Eleitoral.
Daí para a frente, o país entrou em crise, agravada pela Operação Lava Jato, que envolveu membros do PT e de partidos aliados do governo, além de auxiliares do  executivo, em acusações de corrupção. Mas não há registros de acusação contra Dilma nem de atos em que ela tenha prejudicado as investigações.
Até a oposição reconhece que Dilma é uma pessoa honesta. Mas o que está em jogo é a política do “quanto pior, melhor”.  O que vale é que o impeachment embaralha as cartas do jogo e encurta a chegada da oposição ao poder. E há também interesses econômicos, em especial de olho no petróleo do Pré-Sal.
É este o jogo de interesse que está por trás do pedido de afastamento de Dilma. O problema é que, para se fundamentar um pedido de impeachment, tem que haver base jurídica, o que comprovadamente não há contra Dilma. Se a presidenta for afastada, está deflagrado golpe contra as instituições do país – contra a democracia.
Não há alternativas para nenhum país fora do campo democrático. Sem democracia, rasga-se a Constituição do país que determina eleições diretas para cargos públicos. A figura do impeachment existe na Constituição, mas ela só pode ser usada em casos extremos e se houver bases legais e acusações de crimes para se afastar um presidente eleito pelo povo.
Fora disso, é golpe praticado por uma minoria que não quer aceitar o resultado de uma eleição em que houve, por intermédio do voto, uma escolha soberana e legítima do principal mandatário da nação. A sociedade responsável brasileira tem que se levantar contra esta aventura que pode levar o Brasil a uma crise muito maior do que a atual.
Abaixo, links e manifestos de vários setores brasileiros – juristas, intelectuais, CNBB, governadores e igrejas cristãs – que já se manifestaram contra o impeachment de Dilma. Veja também avaliações sobre as consequências do pedido de impeachment na economia e na política.