domingo, 10 de novembro de 2013

Morreu Zé Marião, benzedeiro e curandeiro famoso de gente simples e turistas de São Miguel do Gostoso



Por Emanuel Neri
Passava um pouco das 18h do último sábado (9/11) quando um carro de som passou pelas principais ruas de São Miguel do Gostoso anunciando a morte de José Mariano Soares, de 85 anos, mais conhecido por Zé Marião, o mais famoso e consultado benzedeiro da cidade.
A morte de Zé Marião causou grande impacto na gente simples que o procurava diariamente em sua casa, em busca de rezas, benzas e curas que confortassem suas doenças – fossem físicas ou emocionais. Zé Marião morava no bairro do Maceió, onde atendida, em sua casa simples, inúmeras pessoas por dia.
A fama de Zé Marião também correu rápido pelas pousadas de São Miguel do Gostoso. Era raro o dia em que ele não recebia turistas ou pessoas de fora, que vieram morar na cidade, que buscavam seu conforto espiritual. Não fazia distinção neste tipo de atendimento.
O noBalacobaco ouviu depoimentos de pessoas que consultavam Zé Marião. Curandeiro? Benzedeiro? Líder espiritual e religioso? São muitos as definições sobre a atividade de Zé Marião. Seja qual for a qualificação, o fato é que ele ajudava a muitos com suas rezas.
Zé Marião, segundo estes depoimentos, era um homem silencioso. Quando se concentrava na reza, balbuciava orações de forma muito rápida, parecendo mais a repetição de um mantra budista. Muitos sentiam uma sensação de alivio ao ouvir estas rezas sequenciais.
Um senhor de fora que tem casa na cidade, mas que não é religioso, descreve seus inúmeros contatos com Zé Marião como “momentos de equilíbrio a quietude”. Admirava-o tanto que passou a levar a ele também suas filhas, quando elas vinham à cidade, junto com netos.
São muitas as histórias em torno de Zé Marião. Há histórias de curas as mais diversas possíveis – até estrabismo este benzedeiro resolvia, segundo depoimentos. Ele usava três raminhos de plantas em seu processo de benzimento – ou cura – das pessoas doentes.
Este tipo de raminho costumava ser de uma planta chamada “manjericão bravo”. Na falta deste tipo de planta, ele usava outras espécies. Mas o fato é que estes galhinhos murchavam no processo da reza. Alguns murchavam mais rápido, outros mais demorados.
Se o galhinho da esquerda fosse o primeiro a murchar, tratava-se de mau olhado de homem. Se fosse o da direita, era mau olhado de mulher. Não se sabe o motivo quando murchava o raminho do meio. Se os três murchassem rápido, era sinal de "carrego" forte.
Zé Marião era devoto de Padre Cicero. Chegou a ir pelo menos 100 vezes, em romaria, por anos seguidos, a Juazeiro do Norte, no Ceará, terra em que viveu Padre Cícero. Também era devoto do Bom Jesus dos Navegantes, padroeiro de Touros, e ia a todas as suas festas.
O mais importante benzedeiro de São Miguel do Gostoso morreu no sábado, em um hospital de Natal, onde estava internado desde que sofreu um acidente vascular cerebral. Seu velório, na casa em que sempre atendeu a tanta gente, teve a presença demuitos admiradores.
Zé Marião foi sepultado na manhã deste domingo, em São Miguel do Gostoso. À falta de foto de Zé Marião, este blog ilustra este texto com flores (foto), em homenagem a este importante líder religioso que ajudou muita gente a superar sofrimentos.
Abaixo, veja depoimento de Ângela Neri, uma admiradora e frequentadora assídua dos processos de bênçãos e curas de Zé Marião.


“Simples e bondoso senhor, de mãos energéticas e um grande sorriso”

“Falar de Zé Marião é um desafio. Sempre tive um profundo respeito por este simples e bondoso senhor. Sou testemunha de pessoas que o procuravam – não só de São Miguel do Gostoso, como de municípios vizinhos – para curar suas graves mazelas.
Estas pessoas deixavam de ser atendidas por médicos – ou até já tinham passado por médicos – para receber conforto das famosas e energéticas mãos de Zé Marião. Só em chegar na casa do Zé Marião, no bairro do Maceió, já era um alivio para quem o procurava.
Raríssimas vezes o encontrávamos descansando. Na sua humilde casa, havia sempre pessoas sentadas na calçada, enquanto ele já atendia algum doente. Depois, ele sempre surgia com um sorriso grandioso no rosto e conversava com todos, um por um.
A imagem que eu guardo do Zé Marião  era ele sentado em uma cadeira de balanço, destas de ferro e fios de plástico, atendendo às pessoas. “Aguarde um pouco, minha filha, que eu lhe atendo assim que acabar esta cura”, dizia. “Todos aqui serão atendidos”.
O Zé Marião era uma pessoa curiosíssima. Ele só atendia antes de o sol se pôr. Por isso tínhamos que ir mais cedo para a sua casa, ficar aguardando, porque sempre tinha muita gente para ser atendida. E todos tinham ramos de plantas nas mãos, dadas por ele.
A casa do Zé Marião tinha algumas imagens de santo nas paredes. Lembro de um Coração de Jesus que ficava no centro da sala, de frente para a cadeira em que ele se sentava para atender às pessoas. Zé Marião era devotíssimo de Padre Cícero.
Sabíamos que ele ia todos os anos, acompanhando romeiros, a Juazeiro do Norte, no Ceará, para visitar o túmulo de Padre Cícero. E sempre voltava com uns vidrinhos de unguentos que, segundo ele, ajudavam no processo de cura. E parece que ajudavam mesmo.
A pequena sala em que ele atendia tinha também uma mesinha comprida, abarrotada de imagens de santos e crucifixos. Zé Marião não tirava do pescoço um enorme rosário, a não ser na hora de benzer. Mas colocava o rosário ao lado da pessoa que ele atendia.
Sei que muita gente em São Miguel do Gostoso, mesmo os turistas, procuravam Zé Marião, para receber suas bênçãos. Sei de casos incríveis que passaram pelas mãos deste bondoso senhor. Mesmo na minha família, muitas pessoas procuraram sua ajuda.
A mais curiosa foi a de uma irmã, que havia comprado um carro, mas sentia mal-estar e vômitos sempre que entrava no veículo. Procurou Zé Marião e ele foi logo dizendo: “Se desfaça rápido deste carro. Ele já sofreu um grave acidente e seu dono morreu dentro dele”.
Minha irmã trocou imediatamente o carro e nunca mais sentiu absolutamente nada. Mistérios?  Zé Marião também atendia à distância. Quando o doente estava muito debilitado, bastava enviar uma peça de roupa, para ele curar. E o efeito também era positivo.
Zé Marião vai fazer muita falta à população de São Miguel do Gostoso que acreditava em suas rezas. Mas ele se foi, junto com sua espiritualidade maior que o ajudará, nesta viagem, a ser recebido de braços abertos aonde quer que ele chegue, coberto de luz e muita paz.
E ao sentir sua falta, meu generoso e bondoso senhor, levantarei os olhos ao firmamento e lhe enxergarei através das estrelas”.
  

2 comentários:

  1. LEMBRO MUITO DELE QUANDO MESMO PESCAVA DE TRESMAIO NA PRAIA DAS CANAUBAS

    ResponderExcluir
  2. "Na memória de quem ama não há lugar para o esquecimento, só para a saudade daqueles que durante a vida nos trouxeram tanta alegria. Sentirei sua falta.

    ResponderExcluir