Por Emanuel
Neri
Vez por outra este blog abre
espaço para artigos de jornalistas. Desta vez, o artigo a ser reproduzido é da
jornalista Hildegard Angel. Título do texto: “Primavera à Brasileira:
radicalismo sem controle e, organizados, apenas o crime e os pentecostais”. Vale a pena ler este texto.
O artigo de Hildegard
– que assina a “Coluna da Hilde”, um dos blogs mais acessados do país – trata
da onda de radicalismo que tomou conta do país ultimamente. Esta onda de
vandalismo (foto) pegou carona nas manifestações de jovens, ocorridas em junho, no
Brasil.
A "Primavera" citada no título do post de Hildegard é uma referência às chamadas "Primaveras Árabes", movimento surgido no Oriente e que já foi responsável pela derrubada de ditaduras em vários países, entre eles o Egito. O Brasil, ao contrário, é uma democracia.
A "Primavera" citada no título do post de Hildegard é uma referência às chamadas "Primaveras Árabes", movimento surgido no Oriente e que já foi responsável pela derrubada de ditaduras em vários países, entre eles o Egito. O Brasil, ao contrário, é uma democracia.
Hildegard
Angel
é uma jornalista bastante conhecida no país. É filha da estilista Zuzu Angel,
morta em acidente suspeito de carro, em abril de 1976, depois de denunciar, no
Brasil e no exterior, a morte de seu filho, Stuart Angel, pela ditadura
militar.
Em sua coluna na
internet, Hildegard escreve sobre tudo. Moda, música, artes, acontecimentos sociais
e política. Vale a pena conhecer o blog de Hildgard e a
história de sua mãe, Zuzu, que já teve filme e música de Chico Buarque em sua
homenagem.
Veja, abaixo, o
post de Hildgard sobre a “Primavera à Brasileira” – no final do texto, há links
para o blog da jornalista e sobre a história da sua mãe, inclusive trailer do
filme em sua homenagem e que aborda o corajoso enfrentamento feito por ela à ditadura militar:
“O que me impressionou não foi o índice alto de acessos à
crônica publicada aqui sobre o casamento “Bastilha” no Copacabana Palace, mas a
reação raivosa, odienta, sangue na boca, de tantos e tantos que se manifestaram
e ainda se manifestam.
Isso só fez reforçar minha convicção de que o momento é
extremamente grave, e precisamos disso ter consciência. O radicalismo toma
conta do país. Digo mais: estamos às vésperas de entrar numa guerra civil.
Fomentado pela grande mídia, o ódio da classe média manifesta-se
nas mídias sociais, nas ruas, nas cartas aos jornais, nos bares, nas conversas.
Num projeto golpista, temendo a continuidade do governo PT, uma
mídia irresponsável, inconsequente, com sua curta visão, fez sua audiência
acreditar que todos os males crônicos do Brasil advêm da era Lula.
Corrupção, crise hospitalar, deficiência do ensino, do
saneamento, mazelas que somam pelo menos cinco décadas de omissões em gestões
sucessivas, se é que podemos chamá-las de “gestões”, são debitadas aos governos
petistas, justamente aqueles que apresentaram e apresentam os melhores
resultados no desenvolvimento econômico, na política externa, na qualidade de
vida, na justiça social, no reconhecimento internacional, na distribuição de
renda e em inúmeros outros méritos.
Tanto fizeram, tanto insistiram, numa campanha de tal forma
poderosa, insidiosa, obsessiva, continuada, que conseguiram chegar ao cenário
que pretendiam: o país desmoralizado internacionalmente, a presidenta
impopular, a economia em queda, manifestações nas ruas.
Cegos, imprevidentes, imprudentes, os donos desta mídia, os
membros desta sigla, PIG – de Partido da Imprensa Golpista – acabam por dar o
Golpe neles próprios, pois a primeira vítima é ela mesma, a mídia, que acendeu
o fósforo, mas quem jogou a gasolina foi o Facebook, foi o Google. Só então a
grande e forte mídia brasileira percebeu o quão é pequena e frágil, uma
formiguinha, perto das redes sociais.
E deu no que deu: para cobrir as manifestações, só com os
repórteres no alto dos prédios, dialogando com os cinegrafistas no alto dos
helicópteros. Se chegassem às ruas, eram escorraçados, enxovalhados, linchados.
Os microfones, pelados: não podiam exibir logomarca de emissora.
Daí que essa campanha que agora vemos em grandes jornais e redes
de TV contra a espionagem americana não é por nacionalismo, é por interesses
econômicos. Nossos big shots das comunicações abriram, enfim, os olhos e
se deram conta de que o Google já fatura 50 bi contra 120 bi da mídia mundial.
É uma fatia muito grande, não?
Porém, o leite derramado está: como frear esse ódio, essa sede
incontrolável de vingança contra os ricos, e de modo indiscriminado, em que o
joio é misturado ao trigo? Corruptos aos íntegros? Tudo junto e misturado:
dinheiro ganho por debaixo dos panos sujos e dinheiro conquistado sob o lenço
encharcado do suor do trabalho? Quem vai conseguir puxar esse freio?
Na hora da raiva generalizada, a riqueza dos outros é toda
igual. Com o ódio vem o ressentimento das classes, das diferenças, da inveja,
da ganância do bem do próximo. É o vale tudo de rua contra rua, bairro contra
bairro, vizinho contra vizinho, parente contra parente, irmão contra irmão.
E quando essa ira da classe média se alastrar até os pobres, os
muito pobres, os miseráveis, os iletrados, quem vai conduzi-los? Quem tem
liderança, neste momento, em nosso país? Quem são nossas lideranças?
Os movimentos nas ruas já mostraram que não há quem os guie. As
centrais sindicais convocaram greve geral e foi um fiasco. Não lideram mais. Os
movimentos estudantis, igual. Acomodaram-se nestes 10 anos de ante sala do
poder. O PT, nem se fala, bem como os partidos aliados do governo. Acostumados
a ser oposição desde sua origem, desmobilizaram suas “massas” e não as
entusiasmam mais com a mesma intensidade e velocidade de antes.
Os partidos de oposição, DEM, tucanos e correlatos, de elite,
não têm liderança popular, nem sabem ter. Botam na rua, se muito, alguns gatos
pingados. Agem na base da intriga dos punhos de renda, dos corredores,
cochichando coisas nos ouvidos e nos IPhones dos editores de revistas e
colunistas de jornais. Não são povo.
As únicas lideranças com poder de mobilização no país na
atualidade são: 1) O Crime Organizado.; 2) As Seitas Pentecostais (Igrejas
Evangélicas). Escolha seu líder…
O Crime Organizado já disse a que veio nas manifestações. São as milícias que vandalizam, a Polícia Federal já identificou. Há vídeo de policiais trocando as fardas por roupa de civis para em seguida se misturarem às passeatas. Na agitação com coquetel Molotov em frente do Maracanã, no dia do jogo da Copa das Confederações, o grupo era de milicianos, a Polícia apurou.
O Crime Organizado já disse a que veio nas manifestações. São as milícias que vandalizam, a Polícia Federal já identificou. Há vídeo de policiais trocando as fardas por roupa de civis para em seguida se misturarem às passeatas. Na agitação com coquetel Molotov em frente do Maracanã, no dia do jogo da Copa das Confederações, o grupo era de milicianos, a Polícia apurou.
Com o povo nas ruas, as milícias no Rio de Janeiro retomaram sua
força perdida, se reorganizaram. A ausência do secretário Beltrame neste
processo de retomar o controle da situação está sendo vista, pelos
observadores, como sua recusa de participar de qualquer tipo de “acordo” com
essa turma para restabelecer a “ordem”.
Um retrocesso. É isso que a grande mídia do golpe conseguiu
produzir para o país. O PIG. Manipulando a atração juvenil pelas ruas.
Incensando, insuflando o ódio da classe média contra a classe operária, contra
o analfabetismo dos “lulas”. Projetando uma imagem desfocada da realidade
nacional, ao atribuir aos governos do PT as mazelas absolutas e a exclusividade
da corrupção no país desde o seu Descobrimento.
O PIG atirou no próprio pé. Se a palavra, em inglês, não
significasse Porco, eu o chamaria de Burro.
Por tudo, recomendo muita calma. Sugiro cautela. Bom senso,
cabeça fria. O momento é tenso. Estamos às vésperas de o povo, o povão
verdadeiro, embarcar nessa onda revoltosa, podendo se transformar numa Tsunami
avassaladora, levando tudo e todos de roldão.
Para o Dia 7 de Setembro, está sendo convocada, com
estardalhaço, grande manifestação nacional. Vão tentar uma “Primavera à
Brasileira”. Depois disso, tudo poderá acontecer”.
Abaixo,
link da “Coluna da Hilde”, para quem quiser consultar outros posts da
jornalista. Conheça também a interessante história da estilista Zuzu Angel, mãe
de Hildegard e de Stuart Angel, torturado e assassinado pela ditadura militar:.
:
Muito interessante e esclarecedor o artigo
ResponderExcluirEu concordo com a Hildegard, estamos sim à beira de uma guerra civil.
ResponderExcluirObrigado Emanuel por nos oportunizar o acesso a tão lúcido artigo. Um belo texto, responsável e destemido, que só poderia ser escrito por alguém com ALMA histórica. Hildegard é uma brasileira que sabe, vivida e profundamente, o valor da Democracia e o terror de um regime de exceção e de “ordem” autoritária.
ResponderExcluirMas não é hora de desespero. A hora é de reflexão, avaliação, diálogo, redefinição de rumos e práticas. Crise é hora de grandes oportunidades de se avançar. Precisamos cuidar para não deixar que se instale o “espírito-mal” da volta ao passado... continuemos sempre em frente construindo um futuro melhor que o presente e nunca voltando à insanidade ou ao elitismo de outrora.
Como diz o nosso talentoso Ivan Lins:
“Desesperar jamais. Aprendemos muito nesses anos. Afinal de contas, não tem cabimento entregar o jogo no primeiro tempo. Nada de correr da raia. Nada de morrer na praia. Nada, nada, nada. Nada de esquecer”!
A quem interessar, sugiro como leitura complementar ao artigo em tela o texto – “Equívocos conceptuais no governo do PT” de Leonardo Boff, no site http://www.adital.com.br:
“Os gritos são por humanidade, por dignidade, por respeito ao tempo de vida das pessoas para que não seja gasto em horas perdidas nos péssimos transportes coletivos, mas liberado para o convívio com a família ou para o lazer. Parecem dizer: ‘recusamos ser apenas animais famintos que gritam por pão; somos humanos, portadores de espírito e de cordialidade que gritamos por beleza; só unindo pão com beleza viveremos em paz, sem violência, com humor e sentido lúdico e encantado da vida’. O governo precisa dar esta virada”.
Hildemar Peixoto