sábado, 24 de dezembro de 2011

Tema é polêmico, mas prefeitura baiana corta 30% de cachê de cantor de axé por considerar música racista

Por Emanuel Neri
O acontecimento por si só é polêmico e, com certeza, vai gerar opiniões favoráveis e contrárias. Mas não tenha dúvida que ele provocará uma reflexão sobre a questão da discriminação e do racismo no Brasil. Vamos à notícia. O cantor baiano de axé Luiz Caldas teve 30% de seu cachê cortado devido a uma música, “Fricote”, que ele cantou em um festival na praia de Arembepe, município de Camaçari, na Bahia.
“Fricote”, que foi sucesso nos anos 80 no carnaval baiano, tem um trecho que é considerado racista. “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, diz um trecho da música. A iniciativa partiu da primeira-dama de Camaçari, Luiza Maia, que é deputada estadual pelo PT baiano. Luiza é autora de projeto, em tramitação na Assembléia Legislativa baiana, que tenta disciplinar este tipo de apelaçã (na foto, negros baianos protestam contra conteúdo racista de músicas).
O projeto de Luiza, que recebeu o nome de “Lei Anti-Baixaria”, pretende proibir o poder público de contratar artistas que cantem músicas ofensivas a mulheres ou outras minorias. Luiz Caldas, como era de se esperar, não gostou da punição e chamou de “censura” a iniciativa da prefeitura. É provável que muita gente saia em defesa do cantor, mas não há dúvidas de que sua música é apelativa.
Pode parecer excesso de zelo da Prefeitura de Camaçari, mas talvez o problema seja outro. É comum se ouvir músicos de axé e brega cantarem músicas ofensivas a mulheres e a outras minorias. Músicos de funk também usam muito este recurso apelativo contra mulheres. O fato é que o Brasil mudou, há leis rigorosas contra o racismo e desrespeito a minorias. A música “Fricote” tem apelo racista.
Esta é uma questão bastante delicada. Mas é comum se ver no Brasil, especialmente no Nordeste, músicas que fazem insinuações fortes e apelativas a sexo. A mulher, na maioria das vezes, é usada como objeto. Muitas vezes as músicas criadas por estes músicos tem apelos sensuais, que acabam sendo imitados por adolescentes e crianças. Quem não se lembra da “Dança da Garrafa” e muitas outras do gênero?
O Ministério Público tem que ficar mais atento para este tipo de apelação. Neste sentido, a Lei Anti-Baixaria, em discussão na Assembléia baiana, é um bom começo para que se tente disciplinar melhor esta questão, principalmente quando o dinheiro usado para este tipo de show tem origem pública. Dinheiro público não pode ser utilizado para se denegrir a imagem de mulheres e de outras minorias.
Veja, no link abaixo, notícia do UOL sobre o corte do cachê de Luiz Caldas.
  

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