quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ainda repercutem ofensas a Lula e campanha para ele se tratar no SUS. Tiro parece ter saído pela culatra

Por Emanuel Neri

Continua tendo grande repercussão na mídia brasileira – em especial nas redes sociais – a questão da saúde do ex-presidente Lula, em quem no último sábado foi diagnosticado um câncer de laringe. Parte dos jornalistas da grande imprensa – como Fernando Rodrigues, que escreveu “Exemplos de Lula”, hoje (2/11), na Folha de São Paulo – acha que Lula sai engrandecido diante deste fato.
O assunto também repercutiu no exterior. Mas TVs estrangeiras, como a CNN, de língua inglesa, foi criticada por internautas irados pelo tratamento e abordagem jornalística que o noticiário deu a Lula. No Brasil, o debate continua pegando fogo nas redes sociais. Internautas iniciaram forte campanha, nas redes sociais, para que Lula fizesse seu tratamento de saúde no SUS.
É como se Lula não tivesse direito de pagar um bom plano de saúde para cuidar de seu câncer em um hospital de primeira linha, como o Sírio Libanês, de São Paulo. Também houve ofensas pessoais e insinuações desumanas contra o ex-presidente. O Instituto Cidadania, dirigido pelo ex-presidente, criou e-mail especial para quem quiser enviar mensagem a Lula: saudelula@icidadania.org É só copiar e mandar a mensagem para o Lula.
Além de serem rechaçados por admiradores de Lula e pessoas que defendem respeito para alguém que esteja, como o ex-presidente, enfrentando momentos pessoais delicados, a proposta raivosa fez o tiro sair pela culatra.  Pegou mal até mesmo em setores críticos a Lula e ao PT da chamada grande imprensa. Na Internet -em blogs, Facebook e Twitter -, houve uma enxurrada de mensagens favoráveis a Lula.
Entre jornalistas da grande imprensa, vários têm se manifestado sobre  este episódio. Uns rechaçam, outros tentam apagar o incêndio provocado pelas reações de ódio contra Lula. É importante registrar que importantes líderes políticos do país, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), também condenou, de forma categoria, as ofensas contra Lula.
Vejam, abaixo, artigo da jornalista Maria Inês Nassif tratando desta questão. Na sequência deste artigo, tem link para ler o artigo do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo:

"DEBATE ABERTO

Guia de boas maneiras na política. E no jornalismo

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso.

A cultura de tentar ganhar no grito tem prevalecido sobre a boa educação e o senso de humanidade na política brasileira. E o alvo preferencial do “vale-tudo” é, em disparada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por algo mais do que uma mera coincidência, nunca antes na história desse país um senador havia ameaçado bater no presidente da República, na tribuna do Legislativo. Nunca se tratou tão desrespeitosamente um chefe de governo. Nunca questionou-se tanto o merecimento de um presidente – e Lula, além de eleito duas vezes pelo voto direto e secreto, foi o único a terminar o mandato com popularidade maior do que quando o iniciou.

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso. A campanha que se espalhou nas red es sociais pelos adversários políticos de Lula, para que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS), é de um mau gosto atroz. A jornalista que o culpou, no ar, pelo câncer que o vitimou, atribuindo a doença a uma “vida desregrada”, perdeu uma grande chance de ficar calada.

Até na política as regras de boas maneiras devem prevalecer. Numa democracia, o opositor é chamado de adversário, não de inimigo (para quem não tem idade para se lembrar, na nossa ditadura militar os opositores eram “inimigos da pátria”). Essa forma de qualificar quem não pensa como você traz, implicitamente, a ideia de que a divergência e o embate político devem se limitar ao campo das ideias. Esta é a regra número um de etiqueta na política.

A segunda regra é o respeito. Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeit o à maioria. Simples assim. Lula, mesmo sem mandato, também o merece. Desrespeitar um líder tão popular é zombar do discernimento dos cidadãos que o apoiam e o seguem. Discordar pode, sempre.

A terceira regra de boas maneiras é tratar um homem público como homem público. Ele não é seu amigo nem o cara com quem se bate boca na mesa de um bar. Essa regra vale em dobro para os jornalistas: as fontes não são amigas, nem inimigas. São pessoas que estão cumprindo a sua parte num processo histórico e devem ser julgadas como tal. Não se pode fazer a cobertura política, ou uma análise política, como se fosse por uma questão pessoal. Jornalismo não deve ser uma questão pessoal. Jornalistas têm inclusive o compromisso com o relato da história para as gerações futuras. Quando se faz jornalismo com o fígado, o relato da história fica prejudicado.

A quarta regra é a civilidade. As pessoas educadas não costumam atacar sequer um inimigo n uma situação tão delicada de saúde. Isso depõe contra quem ataca. E é uma péssima lição para a sociedade. Sentimentos de humanidade e solidariedade devem ser a argamassa da construção de uma sólida democracia. Os formadores de opinião tem a obrigação de disseminar esses valores.

A quinta regra é não se deixar contaminar por sentimentos menores que estão entranhados na sociedade, como o preconceito. O julgamento sobre Lula, tanto de seus opositores políticos como da imprensa tradicional, sempre foi eivado de preconceito. É inconcebível para esses setores que um operário, sem curso universitário e criado na miséria, tenha ascendido a uma posição até então apenas ocupada pelas elites. A reação de alguns jornalistas brasileiros que cobriram, no dia 27 de setembro, a solenidade em que Lula recebeu o título “honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, é uma prova tão evidente disso que se torna desnecessário outro exemplo.

No caso do jornalismo, existe uma sexta regra, que é a elegância. Faltou elegância para alguns dos meus colegas".

A seguir, link do artigo do jornalista Fernando Rodrigues:


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