terça-feira, 9 de agosto de 2011

Vale a pena ver de novo a obra de Glauco Rodrigues


Por Emanuel Neri, em São Paulo

Um bom programa para quem está em São Paulo, de bobeira, é ver a exposição “O Universo gráfico de Glauco Rodrigues”, na Caixa Cultural, no Conjunto Nacional, Avenida Paulista, região central da cidade, que vai até dia 21 de agosto. Glauco Rodrigues (1929-2004) foi um grande pintor brasileiro, com passagens pela Bienal de Veneza, em 1964, e Bienal de São Paulo, em 1967. Sua obra tem a cara do Brasil e por isso foi chamada de “brasileirista” – tropicalista, coloridíssima, com uma abundância de papagaios, araras, e a figura de São Sebastião, sempre crivado de flechas. Glauco adorava a imagem de São Sebastião, que era padroeiro do Rio, a cidade em que viveu a maior parte de sua vida, e de Bagé (RS), sua cidade natal.
“Eu diria que sou uma espécie de escola de samba e o meu enredo é Terra Brasilis”, dizia Glauco, que chegou a expor ao lado de outros grandes pintores brasileiros, como Tarsila do Amaral e Volpi. “Pinto o Brasil, pinto o futuro”, afirmava. Uma de suas obras mais famosas é uma imagem de São Sebastião, semi-nu, tendo ao fundo o Pão de Açucar, cartão postal do Rio de Janeiro -tudo bem vermelho, cor de sangue. Ao longo de sua vida, sempre procurou  retratar cenários bem brasileiros. Sua obra sempre foi habitada por nossos mitos, crenças e história. Glauco manifestou em sua arte um olhar bastante crítico e reprovador para a ditadura militar, que se instalou no Brasil em 1964.
Mas Glauco foi também designer e excelente ilustrador. Fez parte do quadro de ilustradores da revista Senhor – importantíssimo veículo dos meios culturais do país entre o final dos anos 50 e início dos anos 60. Trabalhou ali com nomes igualmente importantes, como Clarice Lispector, Carlos Scliar e Paulo Francis. Produziu ainda inúmeras capas de livros do poeta Carlos Drumond de Andrade. Na pintura, sua obra era inicialmente figurativa, mas depois passeou pelo abstrato e voltou ao figurativo –também namorou com a arte pop, influenciado por artistas americanos da época. Revisitou e fez releituras importantes de obras de Victor Meireles, Tarsila do Amaral e Almeida Júnior, movimento que ele classificou de “antropofágico”.
Vale muito a pena ver de novo esta magnífica obra de Glauco Rodrigues.

Um comentário:

  1. Grande Neri, vi o site, e adorei, a composição gráfica, os textos leves, a forma aberta e lúcida de encarar o mundo. E vi com carinho especial a forma como S.Miguel do Gostoso está sendo abordada, com realidade, afeto e muito cuidado. Um grande abraço, já me cadastrei no blog para acessar as postagens.

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